domingo, 20 de setembro de 2009

Credo Apostólico: por quê mudou?

Autor: Pastor Vanderlei Defreyn

Naturalmente a mudança no Credo Apostólico provoca muitos questionamentos. Afinal de contas, depois que nos acostumamos a dizê-lo de um jeito, não é fácil adaptar-se à mudança. Então que razão suficientemente forte existe para mudá-lo? É isto que explicaremos a seguir:

A formulação anterior ("desceu ao inferno") já vinha sendo questionada há vários anos. Ela causava dificuldade de compreensão e mal-entendidos. Na década de 70, já houve tentativas de reformulá-lo. A questão foi reencaminhada no início da década de 90 pelo pastor Lindolfo Weingärtner. Entre os motivos apresentados pelo pastor Lindolfo, o principal é de que, em português, a compreensão popular da palavra inferno é: lugar onde estão os eternamente condenados e onde o diabo reina. Este, no entanto, não é o sentido original do termo latino "ad inferos", do qual foi traduzido o nosso credo, e nem do termo bíblico grego "Hades", a partir do qual surgiu o termo latino. A palavra bíblica "Hades" até pode ser traduzida por inferno, mas a melhor tradução é de fato "mundo dos mortos". A mudança de sentido foi surgindo com o decorrer dos tempos. Durante o período da Idade Média, em torno do ano 1000 d.C., foi surgindo a idéia de que no "mundo dos mortos" ou inferno havia dois tipos de lugares. O lugar para os que tinham sido bons e o lugar para os que tinham sido ruins. A idéia de inferno como o lugar dos condenados, afastados de Deus, foi se tornando mais forte na mente das pessoas. Na língua portuguesa, a palavra inferno se reduz apenas a este significado de lugar de condenação. Ou seja, aquilo que originariamente significava "mundo dos mortos", através da tradição humana e da tradução para o português, adquiriu o sentido de mundo dos condenados e definitivamente afastados de Deus.

Na Bíblia, se afirma que Cristo morreu e também que desceu ao mundo dos mortos, mas não há lugar que diga que ele foi para o inferno neste sentido condenatório. Inclusive, na Bíblia, na maior parte das vezes em que se fala do inferno no sentido de afastamento definitivo de Deus, não se usa a palavra "Hades" e sim a palavra "Geena"( que significava lugar de punição). Portanto, em função do sentido da palavra inferno em português, está mais de acordo com a Bíblia e com o sentido original do Credo Apostólico dizer que Jesus desceu ao "mundo dos mortos" e não ao inferno.

Na Alemanha, tanto a Igreja Católica como a Evangélica já há muito tempo fizeram a mudança. Onde antes se dizia: "niedergefahren zur Hölle" foi mudado para "hinabgestiegen in das Reich des Todes". No Brasil, apenas a IELB (também conhecida como Igreja Luterana Missouri), além da IECLB, ainda usa o termo "desceu ao inferno". Em nenhuma outra igreja cristã no Brasil se usa tal termo, considerado inadequado.

Por todos estes motivos, a reformulação foi encaminhada à Comissão Teológica da IECLB. Esta comissão deu parecer favorável à mudança e a mesma foi aprovada no XXI Concílio de nossa igreja, realizado em Outubro de 1998. Desde então, as comunidades estão sendo orientadas a adotarem a nova formulação. Não existe uma ordem para se impor esta nova versão. Mas, para que em nossa igreja não haja diferentes credos, o que poderia provocar confusão numa celebração comum, cremos que devemos optar pela nova versão, já que está muito bem fundamentada a reformulação.

É claro que durante algum tempo todos ainda vamos tender a dizer os termos antigos. Mas o tempo ajudará a nos adaptarmos à nova versão.

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