quinta-feira, 21 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 09)

A oposição ao trabalho
Não se faz esperar muito a reação contra a obra iniciada pelos metodistas. Já o Rev. Spaulding, em carta de 24 de julho de 1838, se refere a mesma, embora ate então nenhuma pessoa se tivesse convertido a Cristo. O interesse despertado pelas Escrituras, além da distribuição de folhetos, começou a preocupar a alguns católicos fanaticos ou menos esclarecidos, sobretudo entre o clero. Logo surgiu o semanario O Católico com o objetivo de combater a obra missionaria, mas nao tendo sido muito feliz, reapareceu mais tarde sob o titulo de O Católico Fluminense. Todavia, o povo nao lhe deu grande importancia, nem os missionarios perderam tempo em responder as suas diatribes. Os artigos ao inves de granjearem a simpatia do publico, levavam mais gente a querer examinar a Biblia. Assim, o referido jornal cessou de atuar ao termino de poucos meses.
Nesse interim também alguns clérigos resolveram embargar-lhes a semeadura, servindo-se do pulpito, do confessionario e da imprensa. O mais conhecido deles foi o Padre Luis Gonçalves dos Santos (1767 - 1844), apelidado o Perereca, autor das Memórias para a Historia do Reino do Brasil. Em linguagem ferina e, por vezes maldosa, escreveu tres obras verberando a propaganda evangelica que os metodistas vinham efetuando. Foram publicadas em 1837, 1838 e 1839, tendo como titulos, respectivamente: Desagravo do clero e do povo catholico fluminense ou Refutação das mentiras e calúnias de hum impostor que se intitula missionario do Rio de Janeiro; Antidoto Catholico contra o veneno Metodista ou refutação do segundo relatório do Intitulado missionario do Rio de Janeiro; O Catholico e o Methodista, ou refutação das doutrinas heréticas e falsas, que os intitulados missionarios do Rio de Janeiro, Methodistas de New York tem vulgarisado nesta Côrte do Império do Brasil, por meio de huns impressos chamados tracts, com o fim de fazer proselitos para a sua seita; Refutação do texto do tratado dos Methodistas...Esta última saida a lume posteriormente e impressa em Niterói. As demais foram-no pela Imprensa Americana de I.P. da Costa, no Rio de Janeiro. A mais volumosa é a terceira, ou seja O Catholico e o Methodista...que abrange 230 páginas, sem incluir as 27 da introdução. Nela refuta 60 textos colhidos nos folhetos de Spaulding e Kidder, e apresenta nas últimas paginas Provas do Maquiavelismo dos Methodistas, além de um Apendice Curioso dedicado ao nosso missionario do Rio de Janeiro, e companhia.
Dois trechos da mesma servem para demonstrar o impacto causado pelo trabalho dos missionarios metodistas, bem como a virulência do contendor:
"Como é possivel que na Corte do Império da Terra de Santa Cruz, a face do seu imperador, e de todas as autoridades eclesiásticas e seculares, se apresentem homens leigos, casados, com filhos, denominados Missionarios do Rio de Janeiro, enviados de New York, por outros tais como eles, protestantes calvinistas, para pregar Jesus Cristo aos Fluminenses?" E ainda, noutro trecho, aceverava o violento sacerdote:
"Coisa incrivel, mas desgraçadamente certissima, estes intitulados missionarios estao há perto de dois anos entre nós procurando com a atividade dos demônios perverter os católicos, abalando a sua fé, com pregações publicas na sua casa, com escolas semanarias e dominicais, espalhando Biblias truncadas e sem notas, enfim, convidando a uns e a outros para o protestantismo e muito especialmente para abraçar a seita dos metodistas, de todos os protestantes os mais turbulentos, os mais relaxados, fanaticos, hipócritas e ignorantes".
Os livros do Padre Luis Gonçalves dos Santos são hoje desconhecidos, só existindo na secção de obras raras de alguma biblioteca publica ou de bibliófilo, ao passo que a Escritura Sagrada prossegue em sua marcha vitoriosa, cada vez mais lida e mais estimada por milhões de brasileiros. E quanto aos metodistas, considerados tão vilmente, ai esta a historia para julga-los.

A primeira vida ceifada

Ao enaltecermos a obra do Rev. Daniel P. Kidder, devemos levar em conta o apoio e a inspiração que recebeu da jovem esposa, Sra. Cynthia Harris Kidder. Ambos decidiram entregar as vidas ao trabalho de Deus, mas podendo realizá-lo em sua própria nação, vieram para o Brasil. Todavia o Rev. Kidder não se deteve no Rio de Janeiro, pois encarnou como poucos o espirito do itinerante metodista. Durante os dois anos de permanência em nosso Pais, passou viajando grande parte do tempo, e isso exigiu da amável companheira todo desprendimento e compreensão.

Parece que a Sra. Kidder não tinha uma boa constituição fisica. Na travessia para o Brasil ressentiu-se bastante. Depois, o marido, referindo-se a um passeio que fizeram a cavalo pelos arredores da cidade, escreve que D. Cynthia se achava recuperando de recente enfermidade.

E mais tarde, quando tudo já corria bem e o jovem missionario externava seus novos planos a dileta companheira, quase repentinamente a mesma precisou de recolher-se ao leito. Lê-se, a propósito, no "Diário" dele as seguintes anotações:

"Domingo, Abril 5, 1840: Mrs. Kidder não passou bem quanto a saude, de modo que esteve ausente ao culto da noite".

Diversos médicos foram chamados, ao se pressentir a gravidade do mal. Recorreu-se ao que de melhor podia a ciência oferecer na ocasião, na cidade do Rio. O Rev. Kidder desdobrou-se em carinho.

As vigilias prolongaram-se durante noites seguidas. Mas tudo em vão. Só por um milagre a enferma poderia curar-se. Afinal, no dia 16, cerca das 4:00 horas da manhã a sra. Kidder deixou de pertencer a vida presente. O corpo foi removido para a capela do cemiterio dos ingleses, no bairro de Gamboa, e sepultado nessa mesma necrópole as 4:00 da tarde.

O oficio funebre foi dirigido pelo ministro da Igreja Anglicana, estando presente também seu colega da Igreja Alemã, alem de muitos amigos, americanos, ingleses, alemães, franceses, e brasileiros. Sobre o tumulo levantou-se uma laje com o seguinte epitafio: "Sagrada a Memória da Sra. Cynthia Harris, esposa do Rev. Daniel P. Kidder, Missionaria Americana". Faleceu em 16 de Abril de 1840, aos 22 anos e seis meses.

Abriu-se um "hiato" no trabalho metodista

A morte de Mrs. Kidder transtornou a vida de seu jovem marido alem de lhe ferir duramente o coração, atirando-lhe sobre os ombros o inteiro cuidado de duas crianças, uma das quais, sem duvida, nascida depois de o casal aportar ao Rio de Janeiro. Dois marcos, portanto, da passagem da familia por nosso pais e, ao mesmo tempo, da primeira missão metodista.

Por esses motivos, o Rev. Kidder achou conveniente regressar aos Estados Unidos. A 9 de maio embarcou no "Azelia", levando as crianças consigo. É impossivel descrever o seu estado de espirito quando o navio levantou ferros e se foi distanciando mais e mais da Guanabara: para tras ficara aquela que ele tanto amava e que escolhera para companheira de seus nobres ideais.

O casal McMurdy também se retirou mais ou menos na mesma ocasião. Ficou apenas o Rev. Spaulding e familia. Mas, também estes regressaram, em fins de 1841. Escreveu a proposito o autor de Cincoenta Anos de Metodismo no Brasil.

"Ainda que aquela primeira missão metodista, como trabalho organizado, terminasse no fim de 1841, contudo ainda permaneceu um elo vivo e pessoal que ligou aquele com o movimento moderno do metodismo, e este elo foi a familia Walker que pertencia a Igreja de então e que passou a pertencer a atual Igreja Metodista no Brasil..."

É preciso levar em conta, outrossim, que a semente espalhada por Spaulding e pelos companheiros contribuiu para descerrar caminhos a outros obreiros evangelicos que vieram depois deles. Relata o Rev. G. E. Strobridge, biografo e genro de Kidder que, quinze anos após sua partida do Rio de Janeiro, certo missionario de outra denominação fez amizade com um proeminente cidadão brasileiro, homem de vida realmente cristã, e a quem perguntou a causa desta mudança. Respondeu: "Tudo isto eu devo a Biblia que deixou comigo há muitos anos o Padre Kidder".

Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista

História do Metodismo no Brasil (Parte 08)

Rev. Kidder, figura extraordinária

Kidder era ainda jovem quando embarcou para o Brasil, pois contava apenas vinte e dois anos de idade. Mas já possuia boa dose de experiencia. Havia-se convertido quando adolescente e se unira a Igreja Metodista, a contragosto da familia. Estou em diversos colegios e, por ultimo, formou-se na Wesleyan University em 1836. Já então se decidira pelo pastorado e chegara ate a sonhar em ir para a China como missionario. Não conseguindo realizar este proposito, aceitou o convite que lhe endereçou o Bispo Waugh, em 1837, para trabalhar no Brasil. Aqui chegando com a familia, entrou imediatamente em atividade. Alem do estudo da lingua portuguesa, iniciado quando navegava no "Avon", e dos cultos que dirigia em Engenho Velho ou na cidade, substituindo Spaulding, devotou-se especialmente a divulgação das Escrituras na forma impressa, e a do seu ensino atraves de folhetos. Todas as oportunidades eram sabiamente aproveitadas no sentido de levar ao povo a Palavra de Deus, quer se tratasse de simples passeio, ou de reunião festiva, de visita familiar, hospitalar ou a pessoa de destaque. Kidder costumava presentear com um volume da Biblia ou do Novo Testamento, ou com um folheto, a quem lhe prestasse algum favor ou gentileza. Havia gente que vinha pedir-lhe o precioso livro, desde modestos trabalhadores ate diretores de escolas; outros o faziam por carta. Por diversas vezes encontrou mesmo a simpatia de sacerdotes, aqui e ali. As remessas nunca bastavam para atender a obra empreendida, fosse o escrito em ingles, frances ou portugues. A Sociedade Biblica Americana, de que era agente, mandava-lhe exemplares de quando em quando.
O Rev. Kidder não se limitou a capital, ou Corte como se dizia, nem aos vilarejos existentes ao longo do percurso ate ao Macacu. Viajou tambem a cidade de São Paulo e foi ao interior da provincia, sempre com o objetivo de verificar as condições de cada lugar, distribuir a Palavra de Deus e fazer novas amizades. Na capital bandeirante travou contato com o ex-p´residente da provincia, Rafael Tobias de Aguiar, com o Senhor Vergueiro, com o Padre Feijó, com o Conselheiro Brotero, presidente em exercicio da Faculdade de Direito, com os Andradas e com outras pessoas ilustres. Nessa oportunidade visitou por mais de uma vez a Assembleia Provincial tendo, então, sugerido a diversos de seus membros a introdução da Biblia, como livro texto das escolas, obrigando-se ele, Kidder, a fornecer os volumes necessarios. A ideia teve boa acolhida e o deputado Antonio Carlos de Andrada se incumbiu de encaminhar a proposta a egrégia Assembléia, mas quando tudo ia caminhando quse sem entraves, um sacerdote residente no Rio de Janeiro, insinuou ao bispo desta diocese que a tradução talvez houvesse sofrido alterações, e isto bastou para impedir o andamento do projeto.

Da viagem a Provincia de São Paulo deixou o Rev. Kidder interessante e valioso relato, bem como da que empreendeu ao nordeste do Brasil - Sua obra traduzida sob o titulo de Reminiscencias de Viagens e Permanencia no Brasil, é considerada classica, pois, de modo geral, descreve com fidelidade tudo quando observou nos curtos anos que viveu em nossa Pátria. De outro lado, revelou-se de grande utilidade no tornar melhor conhecido o Brasil entre os de lingua inglesa naquela época, e bem assim entre nós, os das novas gerações.

Sabemos que o ilustre missionario escreveu diversos outros trabalhos e colaborou posteriormente na redação de O Brasil e os Brasileiros, do Rev. J.C. Fletcher, presbiteriano. Foi, portanto, com sobejas razões, que na sessão de 5 de junho de 1841 no Instituto Historico e Geografico Brasileiro seu nome foi apresentado, afim de ser inscrito no rol dos socios correspondentes do sodalicio.

Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista

terça-feira, 19 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 07)

Spaulding redobra suas atividades
O Rev. Spaulding esforçou-se por aprender a língua portuguesa, de modo que no espaço de alguns meses já podia usá-la para conversar e para anunciar o Evangelho. Não se circunscreveu, porém, a cidade. Viajou, conforme sabemos, ate a Serra dos Órgãos, Iguaçu, e numa excursão de barco, com o Rev. Kidder, ate a região de Macacu, na província do Rio de Janeiro, distribuindo folhetos e exemplares do Novo Testamento assim como da Bíblia.
Pelo visto, a obra conduzida por Spaulding ia muito alem da simples pregação verbal em recintos fechados, tais como salões alugados e lares de amigos. É certo que, devido a carência de recursos financeiros e por amor a verdade, aceitara o encargo de agente da Sociedade Bíblica Americana, de sorte a suplementar a manutenção da família e do próprio trabalho espiritual.
Nas suas relações com o povo fluminense, constatou o inolvidável missionário haver grande interesse pelas Escrituras, tanto que as remessas recebidas via Estados Unidos, se esgotavam em breve lapso de tempo. Não era, pois, para estranhar, a agitação criada no seio do clero, incitando-o a provocações e a represálias, com prejuízo a sementeira iniciada em hora tão feliz por Spaulding e Kidder.
A ultima de três cartas, datada de 14 de dezembro de 1841, ao Rev. Charles Pittman, secretario correspondente da Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal, por Spaulding, é bastante esclarecedora nesse sentido. Vale a pena traduzir alguns dos seus trechos. Em um dos mesmos, assim se expressa o autor: “A influencia de nossos esforços entre o povo do pais pode ser inferida, ao menos em parte, do recente folheto imoderado e abusivo publicado aqui pelo Bispo de Centúria agora residindo em um dos conventos do Rio, no qual diz: Pasmo ao ver a avidez com que tais Bíblias corruptas são recebidas e lidas por leigos ignorantissimos, e por alguns cléricos ainda, se possível é, mais ignorantes, etc.”. E Spaulding prossegue: “Mas posso assegurar-lhe e a todos os amigos da Bíblia que não seria preciso que ele limitasse os seus comentários mal-humorados aos leigos ignorantes e ainda mais aos clérigos ignorantes, pois senadores e deputados da nação, presidentes das províncias, oficiais do governo e da marinha, e do exercito, doutores, advogados, negociantes e homens de todas as camadas com gratidão não fingida receberam esse Livro, e é esperado que o Autor Divino concordará em que seja para eles e suas famílias uma rica fonte de instrução, admoestação e conforto”. Vê-se, assim, quão extensa era a divulgação das Escrituras e o desejo de muitos em conhecê-las.
Spaulding acrescenta logo adiante as razões porque os Protestantes admitem apenas como canônicos determinados livros do Antigo Testamento. Isto é, excluindo os Apócrifos, a exemplo da versão Judaica. Menciona depois alguns escritores do passado e o bem conhecido Concilio de Laodicéia, ao qual diversos daqueles eminentes padres estão ligados. E quanto a Bíblia, objeto das contestações, o argumento é simples, mostrando que o tradutor para a língua portuguesa, era nada menos que o sacerdote católico-romano, Antônio Ferreira de Figueiredo. Os cristãos-evangélicos não tinham, por conseguinte, motivos para se arrependerem. Ademais, afirma ainda Spaulding, é incompreensiva a atitude da Igreja no Brasil, cuja tolerância com respeito as obras de Voltaire, de Rousseau e de outros Deistas salta aos olhos, muito embora irreligiosas e ate opostas ao Cristianismo. Acham-se leitores em todas as classes, e com relativa facilidade se podem comprar nas maiores livrarias. Mas, quão diferentemente sucede em se tratando da Bíblia, pois “de uma a outra extremidade da nação” o clero levantava o povo contra aqueles que a espalhavam, taxando-os de hereges, e ao mesmo tempo dizia que o Império estava sob a maldição do céu, caso as autoridades não detivessem a obra nefasta “dos missionários metodistas” – Contudo, as circunstâncias tinham mudado bastante, e mudariam ainda mais, de sorte que os governantes se deixaram conduzir pelo bom-senso, ao invés de levados por paixões cegas e arbitrárias.
Além desse trabalho, caracterizado pela colportagem e pela pregação a viva voz, Spaulding dava assistência espiritual aos marinheiros, no domingo pela manhã, e durante a semana visitava, quando possível, os enfermos na Santa Casa, sobretudo os marujos e os cidadãos estrangeiros. Como não existisse capelão efetivo para atender aos homens do mar, o comodoro Nicholson convidou-o para dirigir o culto a bordo da fragata “Independência” na base naval do Rio de Janeiro. Grande parte do seu tempo já se achava tomado então, mas os amigos insistiam a que, também, abrisse uma escola, modelada pelo sistema inglês, na qual se ensinasse desde ler e escrever ate filosofia “e outras disciplinas”. Pois essa seria de igual modo, uma excelente forma de acesso ao povo e um bom serviço. No começo pesaria financeiramente, mas depois manter-se-ia por si mesma, diziam esses conselheiros. Tal alvitre, depois de ponderado, foi aceito e, assim, em fins de junho ou começo de julho de 1836, Spaulding instalou-se a Rua do Catete. Em breve a matricula alcançou 15 alunos, sendo 5 do sexo feminino, oscilando as idades entre quatro e catorze anos. Era necessario, por conseguinte, a vinda de mais obreiros, de que deu conhecimento as autoridades da Igreja, nos Estados Unidos, e ao mesmo tempo solicitou dois professores, sendo um para os meninos e uma senhora ou senhorita para as meninas. Tendo em mira, tambem, a expansao da obra, revelou a conveniencia da aquisição de um terreno e a construção nele do indispensavel edificio.

Alcançavam mais longe os olhos do Rev. Spaulding. Antevia um pais grande perante si e habitado por um povo bom, apesar de dominado por superstições, tolhido pela ignorancia, sem saude fisica bastante e carente da verdadeira vida em Cristo. E isto o levou a recomendar a Igreja-Mãe o envio para o Brasil de um observador perspicaz, a fim de viajar pelo território e verificar "in loco" onde se deviam instalar escolas e novos pontos de evangelização. Realmente, na historia do metodismo, estas duas iriam caminhar juntas por toda parte: a instrução e a pregação do Evangelho.

Novos obreiros em ação

Em resposta as solicitações do Rev. Spaulding, a Sociedade Missionaria arregimentou mais gente. A 13 de novembro de 1837 sairam de Boston com destino ao Rio de Janeiro, no "Avon", o Rev. Daniel Parisk Kidder e a esposa, Mrs. Cynthia Harris Kidder, a filhinha, o Sr. R. McMurdy e a Srta. Marcella Russel, irmã de Mrs. Kidder, e que, depois, tornou-se a Sra. McMurdy. A viagem foi penosa, sobretudo para Mrs. Kidder, que permaneceu de cama durante os cinquenta e seis dias da travessia. Afinal, foi grande o regozijo de todos quando puderam abraçar os Spaulding e não menor os destes, porque os recem-chegados alem de patricios, eram companheiros de ideal. A obra metodista recebia, agora, um novo estimulo na pessoa dos novos missionarios, ansiosamente aguardados.

O Rev. Spaulding hospedou-os em seu lar. Entretanto, a familia Kidder seis meses depois achou mais conveniente mudar-se para Engenho Velho, local onde residia a maior parte dos norte-americanos e ingleses, os quais estavam sem assistencia religiosa. Por esta razão, um serviço de culto se instalou ali em carater permanente, ate quando o Rev. Kidder, um ano mais tarde, empreendeu algumas viagens demoradas.

Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista

sexta-feira, 15 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 06)

PRIMÓRDIOS DO METODISMO NO BRASIL

Aos metodistas cabe a honra de terem sido os iniciadores das missões evangélicas no Brasil, e os segundos na América Latina. Os presbiterianos, dos Estados Unidos, precederam-nos na Argentina em 1825, mas, poucos anos depois tiveram necessidade de encerrar suas atividades entre os portenhos. Entretanto, o Rev. Fountain Pitts retomou a marcha e em 1836 organizou em Buenos Aires a nossa primeira congregação. Já vimos que ao tempo da vinda dos metodistas para o Brasil, havia algumas denominações protestantes estabelecidas no Rio de Janeiro. Elas, todavia, se preocupavam apenas em dar assistência religiosa aos seus conterrâneos europeus, na língua mãe dos mesmos. Porém, os discípulos de João Wesley deslocaram-se para cá com o firme propósito de transmitir ao povo brasileiro o conhecimento do Evangelho através da divulgação da Bíblia e da pregação. Um panorama da época Nos dizeres do Rev. Pitts a época era das mais oportunas, não devendo ser desprezada. A porta estava aberta, mas um dia poderia fechar-se. De fato o sopro da liberdade corrida por toda a América. O Brasil, á semelhança de outras nações do contingente, acabara de obter a sua Independência. As relações entre o novo governo e a Santa Sé achavam-se estremecidas. A moral do clero deixava muito a desejar. O catolicismo pouco mais tinha a oferecer aos habitantes, além dos ofícios em latim, de procissões e, de quando em quando, um sermão em homenagem a determinado santo. As escolas de Primeiro Grau eram raríssimas; as estradas poucas e más; deficientes os meios de comunicação. A guerra dos Farrapos, que estourou no Sul, em 1835, perturbou a jovem nação durante dez anos. Mas, apesar de tudo, as condições políticas, o intercâmbio comercial com outros países, a vinda de imigrantes, e, enfim, o surto que tomava a agricultura, concorriam para animar o progresso do Brasil. Os metodistas também ensejavam dar a sua contribuição.

Os metodistas e a capital do Império

Os nossos pioneiros escolheram para quartel-general da obra a incetar, a cidade do Rio de Janeiro, sede então da Corte. Ali vivia o príncipe D. Pedro, futuro segundo imperador do Brasil. Nela estavam as representações de países estrangeiros, o Parlamento, a Regência, as grandes casas comerciais, a elite, além de pessoas de outras categorias sociais, e notadamente numerosos escravos negros. Sob estes recaiam os trabalhos mais deprimentes e penosos, como a venda ambulante nas ruas e o carregamento de mercadorias no porto, mas é preciso não esquecer os que serviam em casas ricas, desfrutando da amabilidade do Sinhô e da Sinhá. A cidade possuía algumas ruas, todas estreitas e geralmente calçadas com pedras. A mais importante era a Direita, depois a da Quitanda, centro do comércio de tecidos, e a do Ouvidor, onde se vendiam artigos de luxo. Igrejas havia uma porção, destacando-se pelo vulto a da Candelária. Hospitais também, sendo mais notável por sua antiguidade e ações a Santa Casa de Misericórdia, que atendia a toda a população indistintamente e mesmo aos marujos estrangeiros. Poucos os hotéis, sobretudo os de boa qualidade. Em matéria de ensino sobressaíram o educandário dos jesuítas, a Academia Imperial de Belas Artes, a Escola de Medicina e, em consonância com eles, a Biblioteca Nacional. Existiam, outrossim, cerca de três dezenas de escolas públicas e particulares. A influencia francesa era grande, até na imprensa. Circulavam diversos jornais. Os transportes urbanos (bondes), inaugurados recentemente, eram de tração animal. As ruas, iluminadas a lampião.

O Rev. Spaulding vem instalar a missão

Tendo acolhido favoravelmente as informações prestadas pelo Rev. Pitts, a Igreja Metodista nos Estados Unidos escolheu o Rev. Justin Spaulding, da Conferência Anual da Nova Inglaterra, para a missão no Brasil. Antes tinha ele sido designado para trabalhar na zona de Oregon, na costa do Pacifico, E.U.A., de que, entretanto desistiu. Uma vez aceita a honrosa, mas difícil tarefa e providenciados os meios necessários, embarcou o denodado missionário em Nova York a 23 de março de 1836. Em sua companhia vieram a esposa, o filhinho George Levi e a sua fiel empregada. Chegaram ao Rio de Janeiro a 29 de abril. Ate conseguir moradia na cidade, o Rev. Spaulding e família foram hóspedes por alguns dias do Sr. Thompson, o dedicado negociante inglês já nosso conhecido. Poucos dias depois, em sua própria residência, numa quarta-feira, deu inicio aos cultos em inglês com a presença de trinta a quarenta ouvintes. E não só isso, pregava também na casa daquele amigo, a cerca de três quilômetros, no sábado de manhã e a noite. Como, entretanto, houvesse expectativa de melhoria no trabalho local, o Rev. Spaulding alugou um edifício maior, no começo de junho, a razão de 31$000 por mês, no Largo da Glória. O novo salão comportava cento e cinqüenta a duzentas pessoas. Então passou a dirigir os cultos, ali, todos os domingos a noite, além do que começou a reunir crianças e jovens em Escola Dominical. No inicio, o numero destes oscilou entre doze e dezoito, mas chegou a alcançar ate cinqüenta. Organizou para os mesmos uma biblioteca, tendo os alunos contribuído certa vez com a quantia de 12$000. É interessante, outrossim, que a obra se estendeu a gente de cor, pois o arejado pastor criou duas classes para os negros, uma em inglês e outra em português. “O negro também tem capacidade de aprender e como as demais pessoas pode receber a Graça de Deus”, escreveu Spaulding, o qual se manifestou igualmente contra a escravidão por mais de uma vez.

Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista

domingo, 3 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 05)

A Resposta da Igreja Metodista Episcopal
Entendeu o Rev. Pitts que a situação constituia verdadeiro brado macedônico e que a Igreja Episcopal precisava ouvi-lo. Dai o teor otimista de suas diversas cartas. Ora, que ela o compreendeu suficientemente, não resta dúvida, pois ainda antes que retornasse a pátria, foram convocados missionarios para o novo campo. Assim, quando Pitts apresentou o relatório final as competentes autoridades eclesiásticas, estas não fizeram mais que confirmar as deliberações já adotadas. Em 1836, na primavera, o Rev. Fountain E. Pitts encontrava-se de regresso aos Estados Unidos. Nesse mesmo ano, embarca para o Brasil o seu sucessor, mas a ele cabe a honra de ser o precursor do metodismo em nosso pais e, talvez, o primeiro pregador no seculo XIX a anunciar, aqui, o Evangelho, em carater publico, embora em residencias particulares. O nome do Rev. Pitts ligou-se a nossa história dai por diante. Sua influência pode ser vista na decisão de um filho, o Dr. Joseph Pitts, de emigrar com a familia e com outros para a Amazônia, após a Guerra Civil. Ainda, em 1874, o velho progenitor fazia parte da Conferência Geral quando se decidiu enviar missionario para o Brasil, e na certa, sua voz se fez ouvir ali.
Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista

História do Metodismo no Brasil (Parte 04)

A presença do Rev. Pitts no Rio de Janeiro
O desembarque do pessoal que viajara no "Nelson Clark", realizou-se no dia 19, após a costumeira inspeção pelas autoridades alfandegarias. Nosso distinto passageiro trazia cartas de recomendação, dadas respectivamente pelo presidente americano Andrew Jackson e pelo estadista Henry Clay, as quais, certamente, facilitaram a obra que tinha em vista. É provavel, outrossim, estar munido de credenciais de Igreja. O certo é que, logo a chegada, encontrou alguem que o recebeu e o apresentou ao Rev. Fivers, missionario da London Missionary Society, o qual, com a esposa e uma sobrinha, estava a caminho da Índia. Almoçaram todos com o Sr. Thompson, piedoso comerciante inglês, estabelecido na cidade. Além do repasto, o hospedeiro proporcionou também ao enviado da Igreja Metodista Episcopal, horas agradaveis e muitas informações. Este senhor costumava dirigir uma reunião devocional no próprio lar, nos sabados a noite, e outra mensalmente, a favor da obra missionaria. Pitts foi convidado para oficiar a do sabado em que ali passou, e assim principiaram os seus primeiros contactos. Em carta ao Secretario Correspondente da Sociedade Missionaria, conta algo de suas observações. Já se achava no Rio há duas semanas e chegara a conclusão de que, efetivamente, Deus abrira amplamente uma porta para o Evangelho neste Pais. Os privilégios concedidos pelo governo do Brasil eram mais amplos do que esperava de uma nação católica. Permitia o culto aos adeptos de outros ramos cristãos, em suas moradias ou em edificios proprios, desde que sem a configuração de templos, mas isto pouco importava, escrevia Pitts, porque Deus é Espirito e pode ser adorado em qualquer lugar, pois não habita em casas feitas por mãos humanas. Ate aquele momento, já havia pregado sete ou oito vezes em residências particulares e organizado uma classe (ou congregação) com pessoas "que desejavam fugir da ira vindoura, e libertar-se de seus pecados". Denominou-se "nosso pequeno grupo de metodistas". Enquanto não chegasse o obreiro para conduzi-la, seus membros permaneceriam unidos, cada um animando ao outro e, para tanto, ofertou-lhes alguns hinários e exemplares da Disciplina da Igreja Metodista Episcopal. Também já pedira o envio de certos livros, com idênticas finalidades. Um dos membros era professor em florescente escola inglesa e se oferecera para distribuir a literatura. Nenhuma lei proibia a sua divulgação. O Novo Testamento, sobretudo, devia ser posto ao alcance do povo, pois o recem-chegado ministro informou-se de que muita gente queria ler as Escrituras. Despacha, então, para os Estados Unidos, um exemplar da tradução do Pe. João Ferreira de Almeida para ser examinado e reimpresso. Recomenda, outrossim, a publicação de porções do Novo Testamento, como fazemos atualmente. Residem na cidade, prossegue Pitts, muitos americanos e ingleses que aguardam ansiosos a vinda do futuro pastor metodista. Também a comunidade alemã esta interessada em que a Igreja Luterana lhes envie um ministro. Parece que a Seaman's Friend Society, dos Estados Unidos, encaminhará para cá dentro em breve um obreiro afim de dar assistencia espiritual aos marinheiros. A Igreja Episcopal já mantem trabalho, aqui, informa ainda o missivista. Não se esqueceu o arguto Rev. Pitts de obter outros dados. A população da cidade passava de 200.000 almas. O numero de igrejas é de cerca de vinte, sem contar uns dez conventos. O catolicismo tem perdido muito de seu prestigio, tanto assim que as procissões já não tem o brilho de outrora, o imperador Pedro I reduzira o numero de sacerdotes e transformara o convento de São Bento em arsenal do governo. O atual Regente (em vias de ser eleito), referia-se ao Pe. Diogo Antonio Feijó, ainda que sacerdote, era favorável ao casamento dos padres. Também na Assembléia e no Senado pontilhavam homens inteligentes. Por isso, concluia, o Rio de Janeiro oferece ótimo campo para a obra do Senhor Jesus. E então, dá mais estes sabios conselhos: "O missionario que for mandado deve vir imediatamente e começar logo o estudo da lingua portuguesa. Que seja um homem de vivo zelo, paciente como Jó e que encarne a verdadeira filosofia Cristã. Que ponha todos os cuidados nas mãos do Senhor Jesus e que pregue com o Espirito Santo mandado dos ceus que é o que eles desejam aqui, e não um mesquinho enganador filosofico, com uma visão superficial da santidade do coração, que será tão inficaz como o raio frigido da lua sobre uma montanha de gelo". Numa ultima missiva, enviada de Buenos Aires, repete mais ou menos as mesmas informações e torna a repisar as qualificações do pastor que há de vir: "Espero que o ministro que possa vir tenha mais prudencia do que agressividade para com a Igreja Romana. Assim agiu Paulo em face das superstições da Grécia. Se for cortes e respeitoso para com a ordem estabelecida, ser-lhe-á permitido pregar sem ser molestado. Agora a porta esta aberta. Se demorarmos poderá fechar-se".
Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalvers Salvador - Imprensa Metodista

sexta-feira, 1 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 03)

Rev. Fountain E. Pitts enfrenta o Atlântico
O Rev. Pitts, após a sua escolha, entrou imediatamente em ação. Ele próprio levantou recursos a fim de custear as despesas da longa e penosa viagem. De modo que, decorridas algumas semanas, pode embarcar na cidade de Baltimore, aos 28 de junho de 1835, com destino ao Rio de Janeiro, capital do Império do Brasil, nação ainda nova, visto que sua independência de Portugal datava de há poucos anos, mas, na qual; se desenvolviam idéias elevadas e progressistas. Uma vez alojado a bordo do navio "Nelson Clark" e vencidos os transtornos muito comuns nas viagens maritimas, o Rev. Pitts obteve licença para dirigir cultos com vistas a passageiros e tripulantes. Estes ultimos, todavia, apesar de irreligiosos, mostraram-se cortezes e respeitosos. Quem dirá se a semente do Evangelho veio a germinar no coração de algum ouvinte? Só Deus podera responder. Afinal, decorridos cinquenta e dois dias enfadonhos sobre as águas agitadas do Atlântico, a embarcação ancorou na Guanabara ao entardecer do dia 18 de agosto. O tempo estava firme, mas a aragem soprava fria. A noite ainda não caira, toldando a paisagem ao redor. O quadro que se descortinava aos olhos de Pitts e dos companheiros era deslumbrante. Desde os primeiros navegantes, no começo do seculo XVI, todos quantos adentravam a encantadora baia, expressaram entusiástica admiração. Poucos dias depois, escreveria ele, revelando dons óéticos: "Nasa pode exceder a beleza da baia, e a grandeza ou o cenário ao redor. Ela se assemelha a um lago extenso. Ilhas estão graciosamente engastadas em seu seio, e em suas margens, tanto quanto o olhar é capaz de alcançar, apresentam-se sorridentes nucleos urbanos e vilas. A terra sobressaindo gradualmente da água, através de montes e vales, os quais estão cobertos de interminavel verdura, ate que a visão é confinada por surpreendentes cumes das montanhas de granito marrom, que formam uma muralha ao redor da imensa bacia. E além disto, em dia claro, os picos azuis da serra dos Órgãos, podem ser vistos distintamente à distância de cinquenta milhas, acima do lençol de nuvens que pairam em baixo".
Fonte: Livro História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista