sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Pensamentos sobre a falta atual de alimentos Rev. John Wesley

Recentemente, muitos artigos têm sido publicados sobre a atual falta de alimentos, com suas causas apontadas por homens de experiência e reflexão. Mas, será que não falta algo nessas publicações? (...) Voluntariamente, ofereço aos homens abertos e benevolentes, algumas idéias sobre esse importante assunto, propondo algumas questões e acrescentando a cada uma delas o que parece ser a resposta óbvia e direta.

1.1. Primeiramente pergunto: por que milhares de pessoas estão morrendo em toda a nação? Que é um fato eu sei, pois tenho visto com meus próprios olhos por todo canto da terra. Conheço pessoas que só podem comer uma refeição um dia sim, outro não. Conheço outra pessoa que, embora há poucos anos tivesse todas as conveniências da vida, hoje cata do esterco larvas fedorentas e as leva para casa para repartir com os filhos.

(...) De uma terceira, ouvi a inocente declaração: "De fato estava quase desmaiando e tão fraca, que quase não podia nadar, até que o meu cachorro, não achando nada em casa, saiu e trouxe de volta um osso em estado relativamente bom, o qual tirei de sua boca e fiz um bom jantar". (...) Por que tantos não têm nada para comer? Por que muitos não encontram nada para fazer? A razão de não terem nada para comer é a falta de emprego.

1.2. Mas, por que não têm emprego? Porque os ex-patrões não podem mais mantê-los. (...) Não podem empregá-los porque não têm mercado para seus produtos; os alimentos são tão caros que a maioria do povo não pode comprar quase mais nada.

1.3. Mas, por que os alimentos são tão caros? Particularmente, por que a farinha está tão cara? Deixando de lado razões parciais, a causa é que enormes quantidades de milho são usadas para fabricar bebida. Juntando todos os fabricantes da Inglaterra, temos razão para crer que um pouco menos da metade do trigo produzido no Reino, cada ano, é consumido na fabricação desse perigoso veneno, veneno que naturalmente destrói, não somente a força física e a vida, mas também os valores morais de nossos compatriotas.

Esse fato pode ser rejeitado: "Isto não é possível. Sabemos pelo imposto pago quanto ao milho é destilado". Sabemos mesmo? Não haverá dúvida de que todo o imposto é pago sobre o milho que é destilado? E o que dizer do grande número de alambiques particulares, que não pagam qualquer imposto? Eu mesmo já ouvi um empregado de um eminente destilador, ocasionalmente declarar que para cada litro, sobre o qual pagou o imposto, ele destilou seis sobre os quais não pagou nada. Sim, já ouvi destiladores afirmarem: "Temos que fazer isto para sobreviver". Logicamente, então, não podemos julgar pelo imposto pago, quanto milho é usado na fabricação de bebida.

"Entretanto o imposto traz grandes reservas para o Reino". Isto vale, Majestade, pela vida de seus súditos? Sua majestade venderia cada ano, à Argélia, cem mil dos seus súditos por 400 mil libras? Certamente não. Os venderia por aquela quantia então, para serem abatidos pelos seus compatriotas? Ah, não diga a Constantinopla que os ingleses aumentam seus impostos vendendo a própria carne e o sangue de seus compatriotas!

1.4. Mas, e a aveia, por que é tão cara? Porque o número de cavalos para carruagem e charretes particulares é quatro vezes maior do que era quatro anos atrás. Se não se produz quatro vezes mais aveia do que se produzia há quatro anos, o preço não pode ser o mesmo. Se apenas duas vezes da quantia é produzida, obviamente o preço dobrará. (...)

1.5. Por que as carnes de boi e de carneiro são tão caras? Porque muitos fazendeiros que criavam grandes rebanhos de ovelhas e de gado, ou ambos, agora não criam nada. Eles podem melhor aproveitar da terra criando cavalos para exportação.

1.6. Mas, por que o porco, as aves domésticas e os ovos são tão caros? Por causa da monopolização das fazendas; talvez o monopólio mais diabólico jamais introduzido neste Reino. A terra, que há alguns anos atrás era dividida entre dez ou 20 pequenos posseiros e que lhes permitia sustentar suas famílias confortavelmente, é agora englobada por um grande fazendeiro. (...) Cada uma dessas famílias tinha porcos e aves domésticas que voluntariamente enviavam ao mercado. Os mercados, portanto, eram abastados e a abundância mantinha os preços ao alcance do povo. (...) É só examinar a cozinha dos poderosos, dos nobres e da corte, quase sem exceção, é observado surpreendente desperdício, não mais se admirará da escassez, e do resultante alto custo daquilo que eles com tanta agilidade destroem.

1.7. Mas, por que a terra está tão cara? Porque, pelas razões acima, a aristocracia não pode viver da forma que está acostumada, sem aumentar sua renda, o que a maioria só

pode fazer aumentando os aluguéis. Assim, o posseiro, pagando mais aluguel pela terra, precisa ganhar mais pelos produtos. Isto, por sua vez, aumenta o preço da terra e assim a roda gira.

1.8. Mas, por que não somente os alimentos e a terra e quase todas as outras coisas são tão caras? Por causa dos enormes impostos que são cobrados sobre quase tudo.

1.9. Mas, por que os impostos são tão altos? Por causa da dívida nacional. Eles devem ser mantidos altos, enquanto a dívida existir. (...) Resumindo, então: milhares de pessoas em toda a terra estão morrendo por falta de alimentos. Isso é devido a diversas causas; mas, acima de tudo, à fabricação de bebida, aos impostos e ao luxo.

Aí está o mal e as inegáveis causas dele. Mas onde está o remédio? Talvez exceda à sabedoria humana dizer. Mas não seria um erro oferecer algumas sugestões no assunto.

2.1. Qual o remédio para curar essa úlcera maligna para milhares de pessoas morrendo de fome? Arranjar emprego para elas, e elas acharão os seus sustento.

2.2. Mas como a aristocracia pode lhes arranjar emprego sem se arruinar? Procure um mercado para o seu produto e os patrões lhe darão emprego de sobra. E isto se faz diminuindo os preços dos alimentos, pois assim o povo também terá dinheiro para outros produtos.

2.3. Mas como reduzir o preço do trigo e da cevada? Proibir, para sempre, acabando completamente com aquela praga à saúde, (...) que é a fabricação da bebida! (...) O preço do milho abaixaria pelo menos um terço.

2.4. Como reduzir o preço da aveia? Reduzindo o número de cavalos. E seria possível fazer isto (sem prejudicar no seu trabalho). Colocar um imposto de dez libras sobre cada cavalo exportado à França e um imposto sobre as carruagens da aristocracia.

2.5 Como reduzir o preço da carne de boi e de carneiro? Aumentar os rebanhos de ovelhas e gado. E isto aconteceria sete vezes mais, se o preço dos cavalos fosse diminuído.

2.6. Como reduzir o preço do porco e das aves domésticas? Não arrendar terras a preço superior a 100 libras por ano e diminuir o luxo, por lei, por exemplo, ou por ambos.

2.7. Como reduzir o preço das terras? Por todos os modos acima mencionados, visto que cada um contribui para diminuir as despesas de capital; especialmente o último, restrição de luxo, que é a maior e a principal fonte de necessidade.

2.8. Como diminuir os impostos? Acabar com a metade da dívida nacional, economizar dessa maneira uns dois milhões de libras por ano e acabar com todas as pensões ridículas dadas as centenas de pessoas à toa, tais como as de governadores de fortaleza ou castelos, que nestes 100 anos só abrigaram gralhas e corvos.

Mas isso será feito? Receio que não. Pelo menos não temos razão de esperar que sim, pois qual o bem que podemos esperar, sendo as Escrituras verdadeiras de uma nação tal como esta, em que há tão profundo, declarado e completo desprezo a toda religião e não há temor a Deus? Parece que resta apenas Deus atuando por sua causa. E assim, sendo, que caiamos nas mãos de Deus e não dos homens.

Lewisham, 20 de fevereiro de 1773. (Tradutor: Donald Raffan)

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