sábado, 15 de maio de 2010

Em direcção a Aldersgate
OXFORD
O hábito de estudar, incutido por sua mãe, manteve-se, mas o diário de John Wesley (iniciado em 1725) revela um grande entusiasmo por jogos de cartas, xadrez, ténis e visitas a amigos. Quando John regressou a Oxford para retomar a sua membrasia, apercebeu-se que Charles tinha novos amigos. Encontravam-se frequentemente nos aposentes de John no Lincoln College para orar e estudar em conjunto. Foi então que estabeleceram regras e métodos que regulavam as suas vidas. Visitavam prisões, dirigiam uma escola para crianças pobres e ajudavam os necessitados. Foram ridicularizados por tal comportamento e chamavam-lhes ironicamente "Traças da Bíblia", "Clube Santo" e "Metodistas".


Prisão de Bocardo, fotografia de uma gravura do livro de John Skelton:
Oxonia Antiqua Restaurata (1823)
Bibliotecas do Condado de Oxfordshire

O CLUBE SANTO

Este famoso quadro hipotético de Marshall Claxton, 1812 - 1881, só foi pintado em meados do século XIX. Tem sido em parte responsável pela ideia de que o Metodismo de Oxford em 1730 era uma sociedade organizada, com cartões de sócios e um local de encontro, em vez do grupo informal de estudiosos com as mesmas ideias, que realmente era. As pessoas do quadro podem ser identificadas, mas nunca estiveram todas juntas em Oxford!


O Clube Santo, por Marshall Claxton.
Fotografia da versão que se encontra no Museu do Metodismo, em City Road, Londres

SAVANNAH

Em 1735 John e Charles Wesley partiram no barco à vela "Simmonds" em direcção à América - John como pastor em Savannah ocupada por colonos de Georgia, e Charles como secretário do General Oglethorpe, fundador da colónia. John esperava levar o Evangelho aos índios nativos. A aventura não foi bem sucedida. Uma experiência durante uma tempestade no mar mostrou a John a profunda insuficiência da sua fé, deixando-o preocupado. A sua visão rígida e metódica da vida da igreja enfureceu os colonos. A sua pregação franca e vigorosa ofendia-os. A sua esperança de evangelizar os índios não se concretizou. Finalmente, após um desastroso romance de amor, viu-se obrigado a regressar a Inglaterra.


Parte da lista de passageiros do Simmonds


Vista fotográfica de Savannah, 29 de Março de 1734

OS MORÁVIOS

A grande calma de alguns passageiros durante a tempestade a bordo do "Simmonds", impressionou profundamente John Wesley. Esses passageiros eram Morávios. Enquanto a água entrava no barco e a vela principal se rasgava, eles continuavam a cantar salmos. John perguntou-lhes: "As vossas mulheres e os vossos filhos não tiveram medo?". "Não, as nossas mulheres e crianças não têm medo de morrer". (Jornal, 25-26 de Janeiro de 1736). Mais tarde, quando chegaram a terra o pregador Morávio, Spangenberg, perguntou a John: "Você conhece Jesus Cristo?" Esta pergunta perturbou-o durante os dois anos seguintes.
De regresso a Inglaterra, John Wesley procurou o pregador Morávio, Peter Böhler, que lhe deu o célebre conselho: "Pregue a fé até conseguir tê-la; e depois, porque já a tem, pregará a fé". (Jornal, 4 de Março de 1738)

Nota: Morávios - A data de 13 de Agosto de 1727 é geralmente reconhecida como a do renascimento da Igreja Moraviana, também conhecida por Igreja dos "Irmãos Morávios". Sob a orientação espiritual do Conde Nicolau Zinzendorf (1700-1760), profundamente influenciado pelo "pietismo" alemão, estabeleceu a sua sede em Herrnhut onde criou todo um governo e disciplina próprias. A sua paixão por Cristo fez desta Igreja um baluarte do zelo missionário.


PETER BÖHLER
BISPO DA IGREJA DOS IRMÃOS MORÁVIOS

Peter Böhler: das gravuras de E. H. Baker na Biblioteca da Sociedade Histórica Wesleyana,
Southlands College, Wimbledon


24 DE MAIO DE 1738

A experiência da conversão de John Wesley só pode ser descrita pelas suas próprias palavras. Charles teve uma experiência semelhante alguns dias antes.
O cenário estava agora pronto para a proclamação da sua nova compreensão do significado do Cristianismo através de hinos e da pregação, num século que se caracterizou pela autoconfiança e pela negligência dos valores espirituais.


Memorial Aldersgate
O Monumento ao local da conversão de John Wesley (erigido em 1981)
encontra-se perto do lugar da sua conversão em Nettleton Court (Aldersgate Street).
A inscrição é um fac-simile do Diário de Wesley de 1740, que descreve o dia 24 de Maio de 1738.
Fotografia de Martin Ludlow
QUARTA FEIRA, 24 DE MAIO DE 1738

Penso que eram cerca das cinco horas da manhã, quando eu abri a minha Bíblia nestas palavras. "Pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina" 2 Pedro 1:4a. Mesmo quando ia a sair, eu abri-a outra vez nestas palavras, "Tu não estás longe do Reino de Deus".

À tarde pediram-me para ir à Catedral de S. Paulo. A antífona era, Das profundezas eu clamei por Ti, ó Senhor: Senhor, ouve a minha voz. Que os teus ouvidos considerem bem a voz da minha dor. Se Tu, Senhor, fores rigoroso a assinalar o que está feito errado, ó Senhor, quem poderá subsistir? Mas há misericórdia em Ti; portanto Tu serás temido. O Israel, confia no Senhor: Porque no Senhor há misericórdia, e em Ti há abundante Redenção. E Ele resgatará Israel de todos os seus pecados.

À tarde fui, com pouco vontade, a uma reunião na Aldersgate Street (Londres); quando cheguei alguém estava lendo o prefácio de Lutero à Epístola de Paulo aos Romanos. Cerca das vinte horas e quarenta e cinco minutos, enquanto ele descrevia a mudança que Deus opera no coração mediante a fé em Cristo, senti o meu coração estranhamente aquecido. Eu senti que agora confiava realmente em Cristo, somente em Cristo, para salvação: e me foi dada a segurança de que Cristo havia perdoado os meus pecados, sim, os meus, e que eu estava salvo da lei do pecado e da morte.

Texto do testemunho de John Wesley retirado da primeira edição do seu Jornal

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