quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Jacó Armínio (biografia)

Jacó Armínio (biografia)
Jacó Armínio (James Arminius, Jacob Harmenszoon; 10 de outubro de 1560 - 19 de Outubro de 1609) foi um teólogo neerlandês que sistematizou a predestinação restrita. A partir de 1603 também foi professor de teologia da Universidade de Leiden.

Armínio era um distinto pastor e professor holandês, cuja formação teológica havia sido profundamente calvinista. De fato, boa parte de seus estudos ocorreram em Genebra, sob direção de Theodore Beza, o sucessor de João Calvino nessa cidade. Voltando aos Países Baixos, ocupou um importante púlpito em Amsterdão e logo sua fama se tornou grande. Devido a sua fama e ao seu prestígio como estudioso da Bíblia e da teologia, os dirigentes da igreja de Amsterdão lhe pediram que refutasse as opiniões do teólogo Dirck Koornhet, que havia atacado algumas das doutrinas calvinistas, particularmente, no que se referia à predestinação. Com o propósito de refutar Koornhet, Armínio estudou seus escritos e dedicou-se a compará-los com as escrituras, com a teologia dos primeiros séculos da igreja e com vários dos principais teólogos protestantes. Surge a predestinação restrita mais ocasionada pelo lívre-arbítrio humano, do que ocasionada pela vontade soberana de Deus. Diverge, portanto, da predestinação incondicional (calvinista) que ensina a salvação humana depende de uma "eleição absoluta e soberana" - que depende exclusivamente de Deus: a vontade do homem fica excluída.



Arminianismo
O Arminianismo é um sistema teológico baseado nas idéias do pastor e teólogo reformado holandês Jacob Harmensz, mais conhecido pela forma latinizada de seu nome Jacobus Arminius. No inglês, é usualmente referenciado como James Arminius ou Jacob Arminius. Em português, seu nome seria Jacó Armínio.

Embora tenha sido discípulo do notável calvinista Teodoro de Beza, Armínio defendeu uma forma evangélica de sinergismo (crença que a salvação do homem depende da cooperação entre Deus e o homem), que é contrário ao monergismo, do qual faz parte o calvinismo (crença de que a salvação é inteiramente determinada por Deus, sem nenhuma participação livre do homem). O sinergismo arminiano difere substancialmente de outras formas de sinergismo, tais como o pelagianismo e o semipelagianismo, como se demonstrará adiante. De modo análogo, também há variações entre as crenças monergistas, tais como o supra-lapsarianismo e o infra-lapsarianismo.

Armínio não foi primeiro e nem o último sinergista na história da Igreja. De fato, há dúvidas quanto ao fato de que ele tenha introduzido algo de novo na teologia cristã. Os próprios arminianos costumavam afirmar que os pais da Igreja grega dos primeiros séculos da era cristã e muitos dos teólogos católicos medievais eram sinergistas, tais como o reformador católico Erasmo de Roterdã. Até mesmo Philipp Melanchthon (1497-1560), companheiro de Lutero na reforma alemã, era sinergista, embora o próprio Lutero não fosse.

Armínio e seus seguidores divergiram do monergismo calvinista por entenderem que as crenças calvinistas na eleição incondicional (e especialmente na reprovação incondicional), na expiação limitada e na graça irresistível:

* seriam incompatíveis com o caráter de Deus, que é amoroso, compassivo, bom e deseja que todos se salvem;
* violariam o caráter pessoal da relação entre Deus e o homem;
* levariam à conseqüência lógica inevitável de que Deus fosse o autor do mal e do pecado;



Contexto Histórico
Para se compreender os motivos que levaram à aguda controvérsia entre o calvinismo e o arminianismo, é preciso compreender o contexto histórico e político no qual se inseriam os Países Baixos à época.

De acordo com historiadores, tais como Carl Bangs, autor de "Arminius: A Study in the Dutch Reformation (1985)", as igrejas reformadas da região eram protestantes, em sentido geral, e não rigidamente calvinistas. Embora aceitassem o catecismo de Heidelberg como declaração primária de fé, não exigiam que seus ministros ou teólogos aderissem aos princípios calvinistas, que vinham sendo desenvolvidos em Genebra, por Beza. Havia relativa tolerância entre os protestantes holandeses. De fato, havia tanto calvinistas quanto luteranos. Os seguidores do sinergismo de Melanchthon conviviam pacificamente com os que professavam o supralapsarianismo de Beza. O próprio Armínio, acostumado com tal "unidade na diversidade", mostrou-se estarrecido, em algumas ocasiões, com as exageradas reações calvinistas ao seu ensino.

Essa convivência pacífica começou a ser destruída quando Franciscus Gomarus, colega de Armínio na Universidade de Leiden, passou a defender que os padrões doutrinários das igrejas e universidades holandesas fossem calvinistas. Então, lançou um ataque contra os moderados, incluindo Armínio.

De início, a campanha para impor o calvinismo não foi bem sucedida. Tanto a igreja quanto o Estado não consideravam que a teologia de Armínio fosse heterodoxa. Isso mudou quando a política passou a interferir no processo.

À época, os países baixos, liderados pelo príncipe Maurício de Nassau, calvinista, estavam em guerra contra a dominação da Espanha, católica. Alguns calvinistas passaram a convencer os governantes dos Países Baixos, e especialmente o príncipe Nassau, de que apenas a sua teologia proveria uma proteção segura contra a influência do catolicismo espanhol. De fato, caricaturas da época apresentavam Armínio como um jesuíta disfarçado. Nada disso foi jamais comprovado.

Depois da morte de Armínio, o governo começou a interferir cada vez mais na controvérsia teológica sobre predestinação. O príncipe Nassau destituiu os arminianos dos cargos políticos que ocupavam. Um arminiano foi executado e outros foram presos. O conflito teológico atingiu tamanha proporção que levou a Igreja a convocar o Sínodo Nacional da Igreja Reformada, em Dort, mais conhecido como o Sínodo de Dort, onde os arminianos, conhecidos como "remonstrantes", tiveram a oportunidade de defender seus pontos de vista perante as autoridades, partidárias do calvinismo. As discussões ocorreram em 154 reuniões iniciadas em 13 de novembro 1618 e encerrada em 9 de maio de 1619, cujo o assunto era a predestinação incondicional defendida pelo calvinismo e a predestinação condicional defendida pelo arminianismo. Os arminianos acabaram sendo condenados como hereges, destituídos de seus cargos eclesiásticos e seculares, tiveram suas propriedades expropriadas e foram exilados.

Logo que Maurício de Nassau morreu, os calvinistas perderam o seu poder na região e os arminianos puderam retornar ao país, onde fundaram igrejas e um seminário, o qual até hoje existe na Holanda (Remonstrants Seminarium).

Em síntese, as igrejas protestantes holandesas continham diversidade teológica, à época de Armínio. Tanto monergistas quanto sinergistas eram ali representados e conviviam pacificamente. O que levou a visão monergista à supremacia foi o poder do Estado, representado pelo príncipe Maurício de Nassau, que perseguiu os sinergistas.

Para Armínio e seus seguidores, sua teologia também era compatível com a reforma protestante. Em sua opinião, tanto o calvinismo quanto o arminianismo são duas correntes inseridas na reforma protestante, por serem, ambas, compatíveis com o lema dos reformados sola gratia, sola fide, sola scriptura.



Diferentes Correntes
A exemplo do que ocorre com outras correntes teológicas, tais como o calvinismo, as crenças arminianas não são homogêneas. As idéias originalmente desenvolvidas por Armínio foram sistematizadas e desenvolvidas por inúmeros sucessores e profundamente alteradas por outros. Embora todos eles sejam considerados arminianos, divergem em alguns pontos cruciais. O teólogo reformado Allan Sell introduziu a distinção entre os "arminianos do coração" e os "arminianos da cabeça".

Arminianos do coração
São classificados como tal os teólogos que continuaram a trilhar os mesmos passos de Armínio, ou seja, sua teologia é perfeitamente compatível com as idéias por ele defendidas. Entre os inúmeros arminianos do coração, podem ser citados:

* Os Remonstrantes: cerca de 45 ministros e teólogos dos países baixos que deram continuidade ao desenvolvimento da teologia de Armínio. Seu principal representante é Simon Episcopius (1583-1643). Outro nome importante é o do conhecido cientista político Hugo Grotius (1583-1645). Os últimos remonstrantes afastaram-se substancialmente das linhas traçadas por Armínio e deram origem ao "arminianismo da cabeça" (vide adiante).

* Século XVIII: o principal nome que desponta nessa época é o de John Wesley (1703-1791), que se declarava arminiano e defendeu o arminianismo da acusação de heterodoxia e de heresia. Embora a teologia de Wesley seja compatível com o arminianismo original, apresenta alguns acréscimos importantes, tais como o perfeccionismo wesleyano, com o qual nem todos os arminianos concordam, e algumas aparentes contradições, em razão da falta de rigor teológico utilizado em sua linguagem, muito mais de pregador do que de teólogo. Além de Wesley, merecem destaque John Fletcher (1729-1785) e Richard Watson (1781-1833).

* Século XIX: Thomas Summers (1812-1882), William Burton Pope (1822-1903), John Miley (1813-1895).

* Século XX: H. Orthon Wiley (1877-1961), Thomas Oden (embora não aceite ser chamado de arminiano, sua obra é totalmente compatível com o arminianismo clássico. Prefere o rótulo de "paleo-ortodoxo", já que apela para o consenso dos primeiros pais da Igreja). Dale Moody, Stanley Grenz, Howard Marshall.

Arminianos da Cabeça
São considerados "arminianos da cabeça" os que abandonaram alguns dos princípios basilares da teologia arminiana clássica, tal como a crença no pecado original e na depravação total. Aproximaram-se do semipelagianismo e até do pelagianismo, negando a salvação pela graça, pilar da reforma protestante. Posteriormente, a teologia de alguns sofreu fortes influências do iluminismo, recaindo em universalismo, arianismo e em vertentes da teologia moderna liberal.

A maior parte dos críticos do arminianismo cometem o equívoco de tomar a parte pelo todo, considerando que todos os arminianos são "da cabeça", sem discernir as profundas diferenças entre as várias correntes arminianas. Tal equívoco é semelhante ao de considerar que todos os calvinistas são hiper-calvinistas ou que todos sejam supralapsarianos. Talvez por isso, o arminianismo seja tão freqüentemente associado ao semipelagianismo.

Entre os conhecidos arminianos da cabeça, destacam-se:

* Remonstrantes: alguns dos últimos remonstrantes passaram a defender posições mais próximas do semipelagianismo do que do arminianismo, afastando-se do arminianismo clássico. O principal nome dessa época é Philipp Limborch (1633-1712). Muitos opositores do arminianismo, na realidade, baseiam suas críticas nas idéias de Limborch, como se fossem iguais às de Armínio.

* Século XVIII: John Taylor (1694-1761) e Charles Chauncy (1705-1787).

* Século XIX: o nome de maior destaque é o do avivalista Charles Finney (1792-1875), cuja teologia é fortemente pelagiana.



Arminianismo Wesleyano
John Wesley foi historicamente o advogado mais influente dos ensinos da soterologia arminiana. Wesley concordou com a vasta maioria daquilo que o próprio Armínio defendeu, mantendo doutrinas fortes, tais como as do pecado original, depravação total, eleição condicional, graça preveniente, expiação ilimitada e possibilidade de apostasia.

Wesley, porém, afastou-se do Arminianismo Clássico em três questões:

* Expiação – A expiação para Wesley é um híbrido da teoria da substituição penal e da teoria governamental de Hugo Grócio, advogado e um dos Remonstrantes. Steven Harper expõe: "Wesley não colocou o elemento substitucionário dentro de uma armação legal …Preferencialmente [sua doutrina busca] trazer para dentro do próprio relacionamento a 'justiça' entre o amor de Deus pelas pessoas e a aversão de Deus ao pecado …isso não é a satisfação de uma demanda legal por justiça; assim, muito disso é um ato de reconciliação imediato."

* Possibilidade de apostasia – Wesley aceitou completamente a visão arminiana de que cristãos genuínos podem apostatar e perder sua salvação. Seu famoso sermão "A Call to Backsliders" demonstra claramente isso. Harper resume da seguinte forma: "o ato de cometer pecado não é ele mesmo fundamento para perda da salvação … a perda da salvação está muito mais relacionada a experiências que são profundas e prolongadas. Wesley via dois caminhos principais que resultam em uma definitiva queda da graça: pecado não confessado e a atitude de apostasia." Wesley discorda de Armínio, contudo, ao sustentar que tal apostasia não é final. Quando menciona aqueles que naufragaram em sua fé (1 Tim 1:19), Wesley argumenta que "não apenas um, ou cem, mas, estou convencido, muitos milhares … incontáveis são os exemplos … daqueles que tinham caído, mas que agora estão de pé"

* Perfeição cristã – Conforme o ensino de Wesley, cristãos podem alcançar um estado de perfeição prática. Isso significa uma falta de todo pecado voluntário, mediante a capacitação do Espírito Santo em sua vida. Perfeição cristã (ou santificação inteira), conforme Wesley, é "pureza de intenção; toda vida dedicada à Deus" e "a mente que estava em Cristo, nos capacita a andar como Cristo andou." Isso é "amar a Deus de todo o seu coração, e os outros como você mesmo". Isso é 'uma restauração não apenas para favor, mas também para a imagem de Deus," nosso ser "encheu-se com a plenitude de Deus". Wesley esclareceu que a perfeição cristã não implica em perfeição física ou em uma infabilidade de julgamento. Para ele, significa que não devemos violar a longanimidade da vontade de Deus, por permanecer em transgressões involuntárias. A perfeição cristã coloca o sujeito sob a tentação, e por isso há a necessidade contínua de oração pelo perdão e santidade. Isso não é uma perfeição absoluta mas uma perfeição em amor. Além disso, Wesley nunca ensinou uma salvação pela perfeição, mas preferiu dizer que "santidade perfeita é aceitável a Deus somente através de Jesus Cristo."



A Essência Teológica do Arminianismo do Coração (Clássico)
Os Cinco Pontos do Arminianismo
No Sínodo de Dort, os remonstrantes apresentaram a doutrina arminiana clássica na forma dos cinco pontos seguintes:

Eleição Condicional
Deus, por um eterno e imutável decreto em Cristo, antes da criação do mundo, determinou eleger, dentre a raça humana caída e pecadora, aqueles que pela graça creem em Jesus Cristo e perseveram na fé e obediência. Contrariamente, Deus resolveu rejeitar os não convertidos e descrentes, reservando-lhes o sofrimento eterno (João 3:36).

Expiação Universal
Em conseqüência do decreto divino, Cristo, o salvador do mundo, morreu por todos os homens, de modo a garantir, pela morte na cruz, reconciliação e perdão para o pecado de todos os homens. Entretanto, essa salvação só é desfrutada pelos fiéis (João 3:16; I João 2:2).

Fé Salvadora
O homem não pode obter a fé salvadora por si mesmo ou pela força do seu livre-arbítrio, mas necessita da graça de Deus por meio de Cristo para ter sua vontade e seu pensamento renovados (João 15:5).

Graça Resistível
A graça é a causa do começo, do progresso e da completude da salvação do homem. Ninguém poderia crer ou perseverar na fé sem esta graça cooperante. Conseqüentemente, todas as boas obras devem ser creditadas à graça de Deus em Cristo. Com relação à operação desta graça, contudo, não é irresistível (Atos 7:51)

Indefinição Quanto à Perseverança
Os verdadeiros crentes têm força suficiente, por meio da graça divina, para lutar contra Satanás, contra o pecado e contra sua própria carne, e para vencê-los. Mas, se eles, em razão da negligência, podem ou não apostatar da fé verdadeira e vir a perder a alegria de uma boa consciência, caindo da graça, é uma questão que precisa ser melhor examinada à luz das Sagradas Escrituras.

Interpretação dos Cinco Pontos
O terceiro ponto sepulta qualquer pretensão de associar o arminianismo ao pelagianismo ou ao semipelagianismo. De fato, a doutrina de Armínio é perfeitamente compatível com a Depravação Total calvinista. Ou seja, em seu estado original o homem é herdeiro da natureza pecaminosa de Adão e totalmente incapaz, até mesmo, de desejar se aproximar de Deus. Nenhum homem nasce com o "livre-arbítrio", ou seja, com a capacidade de não resistir a Deus.

O quarto ponto demonstra claramente que é a graça preveniente que restaura no homem a sua capacidade de não resistir à Deus. Portanto, para Armínio, a salvação é pela graça somente e por meio da fé somente. Nesse sentido, os arminianos do coração concordam com os calvinistas no sentido de que a capacitação, por meio da graça, precede a fé, e que até mesmo a fé salvadora seja um dom de Deus. A diferença está na compreensão da operação dessa graça. Para os calvinistas, a graça é concedida apenas aos eleitos, que a ela não podem resistir. Para os arminianos, a expiação por meio de Jesus Cristo é universal e comunica essa graça preveniente a todos os homens; mas ela pode ser resistida. Assim como o pecado entrou no mundo pelo primeiro Adão, a graça foi concedida ao mundo por meio de Cristo, o segundo Adão (conforme Romanos 5:18, João 1:9 etc.). Nesse sentido, os arminianos entendem que I Timóteo 4:10 aponta para duas salvações em Cristo: uma universal e uma especial para os que creem. A primeira corresponde à graça preveniente, concedida a todos os homens, que lhes restaura o arbítrio, ou seja, a capacidade de não resistir a Deus. Ela é distribuída a todos os homens porque Deus é amor (I João 4:8, João 3:16) e deseja que todos os homens se salvem (I Timóteo 2:4, II Pedro 3:9 etc.), conforme defendido no segundo ponto do arminianismo. A segunda é alcançada apenas pelos que não resistem à graça salvadora e creem em Cristo. Estes são os predestinados, segundo a visão arminiana de predestinação.

Portanto, embora a expressão "livre-arbítrio" seja comumente associada ao arminianismo, ela deve ser entendida como "arbítrio liberto" ou "vontade liberta" pela graça preveniente, convencedora, iluminadora e capacitante que torna possíveis o arrependimento e a fé. Sem a atuação da graça, nenhum homem teria livre-arbítrio.

Ao contrário dos calvinistas, os arminianos creem que essa graça preveniente, concedida a todos os homens, não é uma força irresistível, que leva o homem necessariamente à salvação. Para Armínio, tal graça irresistível violaria o caráter pessoal da relação entre Deus e o homem. Assim, todos os homens continuam a ter a capacidade de resistir à Deus, que já possuíam antes da operação da graça (conforme Atos 7:51, Lucas 7:30, Mateus 23:37 etc.). Portanto, a responsabilidade do homem em sua salvação consiste em não resistir ao Espírito Santo. Este é o coração do sinergismo arminiano, o qual difere radicalmente dos sinergismos pelagiano e semipelagiano.

No que tange à perseverança dos santos, os remonstrantes não se posicionaram, já que deixaram a questão em aberto.

Citação nas Obras de Armínio
Os textos a seguir transcritos, escritos pelo próprio Armínio, são úteis para demonstrar algumas de suas idéias.

…Mas em seu estado caído e pecaminoso, o homem não é capaz, de e por si mesmo, pensar, desejar, ou fazer aquilo que é realmente bom; mas é necessário que ele seja regenerado e renovado em seu intelecto, afeições ou vontade, e em todos os seus poderes, por Deus em Cristo através do Espírito Santo, para que ele possa ser capacitado corretamente a entender, avaliar, considerar, desejar, e executar o que quer que seja verdadeiramente bom. Quando ele é feito participante desta regeneração ou renovação, eu considero que, visto que ele está liberto do pecado, ele é capaz de pensar, desejar e fazer aquilo que é bom, todavia não sem a ajuda contínua da Graça Divina.

Com referência à Graça Divina, creio, (1.) É uma afeição imerecida pela qual Deus é amavelmente afetado em direção a um pecador miserável, e de acordo com a qual ele, em primeiro lugar, doa seu Filho, "para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna," e, depois, ele o justifica em Cristo Jesus e por sua causa, e o admite no direito de filhos, para salvação. (2.) É uma infusão (tanto no entendimento humano quanto na vontade e afeições,) de todos aqueles dons do Espírito Santo que pertencem à regeneração e renovação do homem - tais como a fé, a esperança, a caridade, etc.; pois, sem estes dons graciosos, o homem não é capaz de pensar, desejar, ou fazer qualquer coisa que seja boa. (3.) É aquela perpétua assistência e contínua ajuda do Espírito Santo, de acordo com a qual Ele age sobre o homem que já foi renovado e o excita ao bem, infundindo-lhe pensamentos salutares, inspirando-lhe com bons desejos, para que ele possa dessa forma verdadeiramente desejar tudo que seja bom; e de acordo com a qual Deus pode então desejar trabalhar junto com o homem, para que o homem possa executar o que ele deseja.

Desta maneira, eu atribuo à graça O COMEÇO, A CONTINUIDADE E A CONSUMAÇÃO DE TODO BEM, e a tal ponto eu estendo sua influência, que um homem, embora regenerado, de forma nenhuma pode conceber, desejar, nem fazer qualquer bem, nem resistir a qualquer tentação do mal, sem esta graça preveniente e excitante, seguinte e cooperante. Desta declaração claramente parecerá que de maneira nenhuma eu faço injustiça à graça, atribuindo, como é dito de mim, demais ao livre-arbítrio do homem. Pois toda a controvérsia se reduz à solução desta questão, "a graça de Deus é uma certa força irresistível"? Isto é, a controvérsia não diz respeito àquelas ações ou operações que possam ser atribuídas à graça, (pois eu reconheço e ensino muitas destas ações ou operações quanto qualquer um,) mas ela diz respeito unicamente ao modo de operação, se ela é irresistível ou não. A respeito da qual, creio, de acordo com as escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que é oferecida.

Extraído de As Obras de James Arminius Vol. I



Comparação com o Calvinismo
Posteriormente ao Sínodo, quando os arminianos apresentaram os cinco pontos do arminianismo, os calvinistas responderam com os cinco pontos do calvinismo, que são os seguintes:

Total depravação: não existe no homem após a queda de Adão força ou vontade do ser humano para buscar a salvação. Todos os homens herdam, de Adão, a natureza pecaminosa, decaída.

Eleição Incondicional: a salvação não está condicionada a vontade ou ações humanas, mas ao soberano decreto de Deus que decide salvar alguns, os eleitos, deixando que os demais sofram o castigo eterno.

Expiação Limitada: a salvação e o sacrifício de Cristo foram realizados apenas para o grupo dos eleitos.

Graça Irresistível: a graça, enquanto ação e vontade de Deus, não pode ser resistida pela vontade ou ações do homem. Assim, uma vez que o homem tenha sido eleito para a salvação, ele não poderá resistir ao chamamento divino.

Perseverança dos Santos: todos aqueles que tiveram sua salvação decretada perseverarão através da vontade e ação de Deus até o fim. Uma vez salvo, o eleito jamais perderá sua salvação.

A análise dos textos arminianos revela que o arminianismo do coração concorda integralmente com a depravação total calvinista. O homem em seu estado natural é totalmente incapaz de desejar ou de buscar Deus. Somente a graça preveniente o capacita a crer na mensagem salvadora. Portanto, a discordância ocorre somente com relação à eleição incondicional, a expiação limitada e a graça irresistível.

No que tange à perseverança dos santos, os arminianos não são unânimes. Há quem acredite que a salvação pode ser definitiva e irremediavelmente perdida.

Com relação à predestinação, o arminianismo crê que é baseada na presciência divina daqueles que, capacitados pela graça preveniente, creem na mensagem de salvação em Jesus Cristo.

Jacó Armínio

Arminianismo

O Arminianismo é um sistema teológico baseado nas idéias do pastor e teólogo reformado holandês Jacob Harmensz, mais conhecido pela forma latinizada de seu nome Jacobus Arminius. No inglês, é usualmente referenciado como James Arminius ou Jacob Arminius. Em português, seu nome seria Jacó Armínio.
Embora tenha sido discípulo do notável calvinista Teodoro de Beza, Armínio defendeu uma forma evangélica de sinergismo (crença que a salvação do homem depende da cooperação entre Deus e o homem), que é contrário ao monergismo, do qual faz parte o calvinismo (crença de que a salvação é inteiramente determinada por Deus, sem nenhuma participação livre do homem). O sinergismo arminiano difere substancialmente de outras formas de sinergismo, tais como o pelagianismo e o semipelagianismo, como se demonstrará adiante. De modo análogo, também há variações entre as crenças monergistas, tais como o supra-lapsarianismo e o infra-lapsarianismo.
Armínio não foi primeiro e nem o último sinergista na história da Igreja. De fato, há dúvidas quanto ao fato de que ele tenha introduzido algo de novo na teologia cristã. Os próprios arminianos costumavam afirmar que os pais da Igreja grega dos primeiros séculos da era cristã e muitos dos teólogos católicos medievais eram sinergistas, tais como o reformador católico Erasmo de Roterdã. Até mesmo Philipp Melanchthon (1497-1560), companheiro de Lutero na reforma alemã, era sinergista, embora o próprio Lutero não fosse.
Armínio e seus seguidores divergiram do monergismo calvinista por entenderem que as crenças calvinistas na eleição incondicional (e especialmente na reprovação incondicional), na expiação limitada e na graça irresistível:
seriam incompatíveis com o caráter de Deus, que é amoroso, compassivo, bom e deseja que todos se salvem.
violariam o caráter pessoal da relação entre Deus e o homem.
levariam à conseqüência lógica inevitável de que Deus fosse o autor do mal e do pecado.

Sermão 29 - Sobre o Sermão do Monte - Discurso 9 (João Wesley)

SERMÃO XXIX.– Sobre o Sermão do Monte.

Discurso 9

“Ninguém pode servir a dois senhores; pois ou há de aborrecer a um e amar ao outro, ou há de unir-se a um e desprezar ao outro. Não podeis servir a Deus e a Mamon. Por isso vos digo: não andeis cuidadosos da vossa vida pelo que haveis de comer ou beber, nem do vosso corpo pelo que haveis de vestir; não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros, e vosso Pai celestial as alimenta; não valeis vós muito mais do que elas? Qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um cúbito à sua estatura? Por que andais ansiosos pelo que haveis de vestir? Considerai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Se Deus, pois, assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Assim, não andeis ansiosos, dizendo: que havemos de comer? ou: que havemos de beber? ou: com que nos havemos de vestir? (Pois os gentios é que procuram todas estas coisas); porque vosso Pai celestial sabe que precisais de todas elas. Mas buscai primeiramente o seu reino e a sua justiça e todas essas coisas vos serão acrescentadas. Não andeis, pois, ansiosos pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã a si mesmo trará seu cuidado: ao dia bastam os seus próprios males.” (Mt 6.24-34)

1. Está escrito que as nações colocadas nas cidades de Samaria pelo rei da Assíria, após o cativeiro de Israel, “temiam ao Senhor e serviam a seus próprios deuses”. “Essas nações”, diz o escritor inspirado, “temiam ao Senhor”, prestando a Ele serviço exterior (o que plenamente prova que elas tinham temor de Deus, embora não segundo o conhecimento), “e serviam a suas imagens esculpidas, eles, seus filhos e os filhos de seus filhos: como fizeram seus pais, assim o fazem eles até o dia de hoje”. (2Rs 17.33ss)

Como a prática dos cristãos mais modernos se aproxima da conduta dos antigos pagãos! “Eles temem ao Senhor”; também prestam externo serviço a Ele, por este meio provando que têm algum temor de Deus; mas esses cristãos do mesmo modo “servem a seus próprios deuses”. Há os que “lhes ensinam”, como havia quem ensinava aos assírios, “a maneira do deus da terra”, o deus cujo nome aquele país até hoje traz, e que era ali cultuado com um rito divino: “todavia”, não servem somente a ele; não o temem, em conseqüência, em medida absoluta; “cada nação”, porém, “acumula deuses para seu próprio uso, cada nação nas cidades em que habita”. “Essas nações temem ao Senhor”; não negligenciam o culto exterior devido a Ele; mas “servem a suas imagens de escultura”, prata e ouro, obra das mãos humanas: dinheiro, prazeres, elogios, os deuses deste mundo; partilham seus serviços, até a última extremidade, com o Deus de Israel. Esta é a conduta tanto de “seus filhos como dos filhos de seus filhos; como fizeram seus pais, assim o fazem eles até o dia de hoje.”

2. Posto que, falando de modo geral, segundo a maneira comum dos homens, aqueles pobres pagãos se diziam “tementes a Deus”, observamos que o Espírito Santo imediatamente acrescenta, falando conforme à verdadeira e real natureza das coisas: “Eles não temiam a Deus, nem faziam segundo o mandamento que o Senhor ordenou aos filhos de Jacó, com quem o Senhor celebrou um concerto, e lhes recomendou, dizendo: não temereis outros deuses, nem os servireis; mas ao Senhor vosso Deus temereis, e Ele vos livrará das mãos de vossos inimigos”.

Igual juízo é proferido pelo infalível Espírito de Deus, e mesmo, na verdade, por quantos tenham os olhos do entendimento abertos à compreensão das coisas de Deus, contra aqueles pobres cristãos, assim comumente chamados. Se falarmos segundo a real natureza das coisas, “eles não temem a Deus, nem a Ele servem”, visto que não obram “segundo o pacto que o Senhor fez com eles, nem de acordo com a lei e o mandamento que Ele havia ordenado, dizendo: Darás culto ao Senhor teu Deus e somente a Ele servirás”. “Servem a outros deuses até o dia de hoje”. E “ninguém pode servir a dois senhores”.

3. Como é vão alguém intentar isto: servir a dois senhores! Não é fácil prever qual seja a conseqüência inevitável de semelhante empresa? “Aborrecerá a um e amará o outro, ou apegar-se-á a um e desprezará o outro”. As duas partes desta sentença, embora separadamente enunciadas, devem ser entendidas em conjunto, pois que a última decorre da primeira. Naturalmente se apegará o servo àquele a quem ama. Tão estreitamente se ligará a ele, que lhe prestará serviço fiel, diligente e de boa vontade, enquanto que, em relação ao senhor a quem aborrece, despreza-o, a ponto de negar atenção às suas ordens e, se de algum modo lhe obedece em qualquer coisa, fá-lo de maneira negligente e descuidada. Assim, todos os homens de senso concluirão: “Não podemos servir a Deus e a Mamon”.

4. Mamon era o nome de um dos deuses pagãos, que se acreditava ser o padroeiro das riquezas, como tais compreendidos os valores em espécie, como ouro e prata, ou, em geral, dinheiro e, por extensão, as coisas adquiridas pelo dinheiro, como bem-estar, honras e prazeres sensuais.

Que deveremos entender por servir a Deus e por servir a Mamon?

Não podemos servir a Deus sem crermos nele. A crença é o único fundamento verdadeiro do serviço a Deus. Assim, crer em Deus, “reconciliando o mundo consigo mesmo mediante Jesus Cristo”; crer nele como um Deus que ama e perdoa, é o primeiro e grande ramo de seu serviço.

Isto posto, crer em Deus implica em confiar nele como a nossa fortaleza, sem a qual nada podemos fazer; como quem nos reveste, a cada momento, do poder do Alto, sem o qual impossível se torna agradar-lhe; como nosso auxílio, nosso refúgio único no tempo da provação, pondo em nossos lábios cânticos de livramento; como nosso escudo, nossa defesa, e o que nos levanta a cabeça acima de todos os inimigos que nos rodeiam.

Implica em confiar em Deus como nossa felicidade, como o alvo dos espíritos, o descanso único de nossas almas, o único bem adequado a todas as nossas capacidades e suficiente para satisfazer a todos os desejos que Ele nos dê.

Implica, em outras palavras, em confiar no Senhor como nosso fim, ter os olhos postos nele quando encaramos todas as coisas, usar todas as coisas apenas como meios de lhe agradar: onde quer que estejamos, ou o que quer que façamos, ver o invisível a olhar-nos com complacência – e fazer que todas as coisas se refiram a Deus, em Jesus Cristo.

5. Crer é, pois, a primeira coisa que devemos compreender por servir a Deus. A segunda é amá-lo.

Amar a Deus, no sentido das Escrituras, da forma requerida de nós pelo próprio Deus, o qual, para tornar viáveis seus desígnios, opera em nós para que assim o amemos, é amá-lo como o ÚNICO DEUS, isto é, de todo nosso coração, de toda nossa alma, de todo nosso entendimento e de toda a nossa força”; e desejar somente a Deus por sua própria causa, e a nenhuma outra criatura, a não ser com referência a Ele; alegrar-se em Deus; deleitar-se no Senhor; não apenas buscar, mas nele encontrar a felicidade; considerar a Deus como o principal entre dez milhares; nele descansar, como nosso Deus e nossa plenitude; numa palavra: ter uma tal posse de Deus que nos faça sempre felizes.

6. Uma terceira coisa temos a entender por servir a Deus: imitá-lo ou sermos semelhantes a Ele.

Assim pensava o antigo pai da Igreja: Optimus Dei cultus, imitari quem colis: “o melhor culto ou serviço prestado a Deus e imitar Aquele a quem adorais”.

Aqui falamos de imitação e semelhança em sentido espiritual: no espírito é que a imitação de Deus, por parte do cristão, começa. “Deus é Espírito”; e aqueles que o imitam ou a Ele se assemelham, devem fazê-lo “em espírito e verdade”.

Deus é amor: assim, os que a Ele se assemelham em espírito, são transformados segundo a mesma imagem. São misericordiosos como Deus é misericordioso. Sua alma é toda amor. São bondosos, benévolos, compassivos, de coração terno, e isto não só no trato com os bons e delicados, mas ainda no trato com os perversos. São, como Deus, amigos de todos os homens e sua misericórdia se estende a todas as suas obras.

7. Mais uma coisa devemos entender por servir a Deus, e esta é – Obedecer-lhe, glorificando-o com nossos corpos e com nossos espíritos; guardando seus mandamentos externos; fazendo zelosamente o que Ele prescreve; evitando cuidadosamente o que Ele proíbe; cumprindo as ações ordinárias da vida com olhos simples e coração puro e oferecendo-as em santo, fervente amor, como sacrifícios a Deus, mediante Jesus Cristo.

8. Consideremos agora o que devemos compreender, por outro lado, como servir a Mamon. Primeiramente, isto implica em confiar nas riquezas, no dinheiro, ou coisas que por este se possam comprar, como se fossem nossa força, o meio pelo qual podemos fazer tudo quanto temos em vista; confiar nelas como nosso auxilio, pelo qual esperamos ser confortados em nossas tribulações ou delas libertados.

Isto implica em confiar no mundo como doador da felicidade; em acreditar que “a vida de um homem”, o conforto de sua vida, “consiste na abundância dos bens que ele possua”; no procurar descanso em coisas visíveis, contentamento nas coisas exteriores; esperar nas coisas do mundo aquela satisfação que jamais será encontrada fora de Deus.

Se assim fazemos, nada menos fazemos do que guindar o mundo às alturas de nosso fim, nosso fim último, senão de tudo, ao menos de grande parte de nossos empreendimentos, de nossas ações e desígnios, através dos quais somente ambicionamos aumento de riqueza, obtenção de prazeres e honras, ganho de bens temporais em maior escala, sem nenhuma referência às coisas eternas.

9. Servir a Mamon implica, em segundo lugar, em amar ao mundo, desejando-o por seus próprios méritos, pondo nossa alegria em suas obras e nestas descansando nosso coração; procurando nele aquilo que nele não se pode encontrar, isto é, nossa felicidade; descansar todo o peso de nossa alma sobre a haste quebrada desse caniço, embora a ti experiência cotidiana demonstre que ele não a pode suportar, mas apenas “nos entrará na mão, traspassando-a”.

10. Assemelhar-se, conformar-se ao mundo, é a terceira coisa que devemos entender por servir a Mamon. Termos não apenas desejos, mas inclinações, afeições, adaptáveis aos desejos, inclinações e afeições do mundo; sermos de mente terrena, sensual, encadeada às coisas da terra; sermos voluntariosos, desordenados, amantes de nós mesmos, pensando exageradamente de nossos próprios talentos; desejar alguém os aplausos dos homens e deleitar-se neles; temer, evitar e aborrecer censuras; impacientar-se em face de advertências, facilmente sentir-se ofendido e estar pronto a retribuir o mal com o mal.

11. Servir a Mamon é, finalmente, obedecer ao mundo, conformar-se exteriormente com suas máximas e costumes; andar como andam os outros homens, pela estrada comum, pelo caminho largo, liso, batido; estar na moda; seguir a multidão; fazer como faz o resto de nossos vizinhos, isto é, fazer a vontade da carne e da mente, lisonjear nossos apetites e instintos; sacrificar-nos a nós mesmos; visar nossa comodidade própria e nosso prazer, no curso geral de nossas palavras e ações.

Que há de mais inegavelmente claro do que o não podermos, assim, servir a Deus e a Mamon?

12. Qualquer homem não vê que não se pode servir aos dois a vontade? Que o equilibrar-se entre Deus e o mundo é o meio mais certo de decepcionar a ambos, acabando por não ter apoio em nenhum dos dois? Que posição incômoda a daquele que tendo temor de Deus mas não amor; que, servindo-o, mas não de todo coração – possui apenas as fadigas mas não as alegrias da religião! Ele tem bastante religião para fazê-lo miserável, mas não a tem em grau necessário para fazê-lo feliz; sua aspiração religiosa não permite que ele goze o mundo, e o mundo não o deixa deleitar-se em Deus. Assim, claudicando entre ambos, perde a ambos – e não tem paz nem em Deus, nem no mundo.

13. Qualquer homem não vê que, procedendo logicamente consigo mesmo, não pode servir a ambos? Que inconsistência mais berrante pode ser concebida, que inconsistência que mais visivelmente transpareça de todas as suas maneiras, do que a do que está esforçando-se por obedecer a ambos esses senhores lutando “por servir a Deus e a Mamon”? Ele é, na verdade, um pecador que “anda em dois sentidos,” dando um passo à frente e outro para trás. Está continuamente construindo com uma das mãos e demolindo com a outra. Ama o pecado e odeia-o; anda sempre buscando a Deus e dele sempre se afastando. Quer e não quer. Não é o mesmo homem durante um dia; não; nem por uma hora seguida. É um mosaico de todas as espécies de contrariedades; um amontoado de contradições confundidas em uma. Oh! sê consistente contigo mesmo, seguindo um ou outro caminho! Volta para a direita ou para a esquerda. Se Mamon é deus, serve-o; se o Senhor o é, serve-o. Mas não penses nunca em servir a nenhum dos dois, a não ser que faças de todo o teu coração.

14. Não vê todo homem que não pode haver possibilidade de servir a Deus e a Mamon, visto existir o mais absoluto antagonismo, a mais irreconciliável inimizade entre eles? O antagonismo das coisas mais opostas da terra, entre fogo e água, trevas e luz, resolve-se em nada, quando comparado com a irreconciliabilidade existente entre Deus e Mamon. Assim, qualquer que seja o serviço que prestes a um, necessariamente renuncias ao outro. Crês em Deus através de Cristo? Confias nele como tua fortaleza, teu auxilio, teu escudo e tua recompensa inexcedível? Como tua felicidade, teu alvo em tudo, acima de todas as coisas? Então não podes confiar nas riquezas. É de todo impossível que o possas, se tiveres aquela fé em Deus. Confias ainda nas riquezas? Negaste, então, a fé. Não confias no Deus vivo. Amas a Deus? Buscas tua felicidade em Deus e a encontras nele? Então não podes amar ao mundo, nem as coisas do mundo. Estás crucificado para o mundo e o mundo crucificado para ti. Amas ao mundo? Estão as tuas afeições concentradas nas coisas cá de baixo? Buscas a felicidade nas coisas terrenas? Então é impossível que ames a Deus. O amor do Pai não existe em ti. Assemelhas-te a Deus? És misericordioso como teu Pai é misericordioso? Estás sendo transformado, pela renovação de tua mente, segundo a imagem daquele que te criou? Neste caso não te podes conformar com o mundo presente. Deves ter renunciado a todas as suas afeições e desejos. Estás de acordo com o mundo? Tua mente traz ainda a imagem do que é terreno? Não foste, logo, renovado no espírito de tua mente. Não trazes a imagem do celestial. Obedeces a Deus? Tens cuidado de fazer sua vontade na terra como os anjos fazem-na nos céus? Então é impossível que obedeças a Mamon. Lanças ao mundo um desafio. Pisas suas máximas e costumes debaixo dos pés e não queres segui-los, nem seres arrastado por eles. Segues o mundo? Vives como os demais homens? Agradaste a ti mesmo? Não podes, em conseqüência, ser um servo de Deus. Pertences a teu senhor – e pai – o diabo.

15. Portanto, “darás culto ao Senhor teu Deus e a Ele somente servirás.” Abrirás mão de qualquer idéia de obedecer a dois senhores, de servir a Deus e a Mamon. Não proporás a ti. Não buscarás na terra ou no céu objeto outro que não seja Deus; não terás outra ambição que não seja conhecer e amar a Deus e dele gozar. E, uma vez que esta é toda a tua preocupação na terra, o único objetivo que podes razoavelmente ter, o único desígnio que te empolga em todas as coisas – “Por isso te digo” (corno nosso Senhor continua seu discurso): “não andes cuidadoso de tua vida, sobre o que hás de comer ou beber; nem, quanto ao corpo, quanto ao com hás de cobrir.” Profunda e valiosa exortação que importa consideremos bem e compreendamos com justeza.

16. Nosso Senhor aí não exige que fiquemos inteiramente alheios ao pensamento acerca do que concerne a esta vida. A conduta displicente, descuidada, está muito longe da religião de Jesus Cristo. Também não se exige que sejamos “preguiçosos em negócios” ou negligentes e proteladores. Isto é, do mesmo modo, contrário a todo o espírito e à índole de sua religião. O cristão aborrece tanto a preguiça como aborrece a embriaguez; e tanto foge da ociosidade como do adultério. Ele bem conhece que há uma espécie de pensamento e cuidado com que Deus se agrada; que é absolutamente necessário ao implemento de obras exteriores a que a providência de Deus chamou cada homem.

A vontade de Deus é que todo homem trabalhe e assim coma o seu pão; mais: que todo homem sustente a si próprio e aos de sua casa. É também vontade sua que “não devamos coisa alguma a ninguém, mas que procedamos honestamente à vista de todos os homens.” Isto não pode ser feito sem preocupação de espírito e sem que algum cuidado nos sobrecarregue a mente. Com freqüência acontece que tais encargos nos levam mesmo a longas e sérias meditações, a intensa e profunda preocupação. Conseqüentemente, essa diligência em angariar o necessário a nos mesmos e aos nossos, esse cogitar de meios pelos quais cheguemos a solver os nossos compromissos, o Senhor não os condena; são até coisas aceitáveis à vista de Deus nosso Salvador.

É bom e aceitável a Deus que nos preocupemos com os negócios que nos defrontam, tendo clara compreensão daquilo que empreendemos e planejando nossas atividades antes de as encetarmos. E é justo que consideremos cuidadosamente, de tempo em tempo, os passos que tivermos de dar, a fim de que tudo preparemos de antemão, de modo a conduzir a vida do modo mais eficiente. Semelhante cuidado, que alguns chamam “preocupação de espírito,” não era intenção do Senhor condenar.

17. O que Jesus aí condena é o cuidado do coração; o ansioso, inquieto cuidado; o cuidado que traz tormento; todo cuidado que arruína a alma ou o corpo. O que Ele proíbe é aquele cuidado que, segundo mostra a experiência, envenena o sangue e conturba o espírito; que antecipa todas as misérias que se temem, vindo elas atormentar-nos antes do tempo. Ele somente proíbe o cuidado que intoxica as bênçãos de hoje por medo do que possa acontecer amanhã; que não permite o gozo da presente abundância graças às apreensões acerca de futuras faltas. Semelhante cuidado é não apenas uma enfermidade dolorosa, uma doença cruel da alma, mas uma odiosa ofensa a Deus. É um pecado do mais escuro negrume. É uma alta afronta ao gracioso Governador e sábio Ordenador de todas as coisas, porque implica necessariamente em insinuar que o grande Juiz não julga retamente e não dirige bem todas as coisas; implica em que Ele falhe, quer em sabedoria, se não sabe o de que necessitamos, quer em bondade, se não provê as coisas para todos os que nele põem a sua confiança. Guardai-vos, pois, de encaminhar o pensamento nessa direção: não andeis ansiosamente cuidadosos de coisa nenhuma. Não tenhais pensamentos inquietantes: esta é uma regra segura. Cuidado ansioso é cuidado errôneo. Com os olhos simples voltados para Deus, fazei tudo aquilo que se relaciona com a provisão de coisas honestas à vista de todos os homens; depois, descansai tudo nas mãos de Deus, que são mais excelentes; abandonai a Deus tudo quanto possa sobrevir.

18. “Não alimenteis pensamentos” dessa espécie, nenhum pensamento ansioso, mesmo em relação “à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou haveis de beber, nem pelo corpo, sobre o com que haveis de cobrir-vos. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido”? Se, pois, Deus vos concede a vida, o dom maior, não vos dará o alimento para o sustentar? Se Ele vos deu o corpo, que dúvida haverá quanto ao vestuário para o cobrir? Mui especialmente se vos destes a Ele, servindo-o de todo o coração. “Eis” diante de vossos olhos “as aves dos céus: elas não semeiam nem ceifam, nem ajuntam em celeiros”; e contudo nada lhes falta, pois que “vosso Pai celestial as alimenta. Não valem vós muito mais do que elas?” Vós, que sois criaturas racionais de Deus, não sois de muito maior valia a seus olhos? Não sois de categoria superior na escala dos seres? “E qual de vós, afadigando o espírito, pode acrescentar um cúbito à sua estatura?” Que proveito tendes então nessa ânsia de pensamento? É de todo modo uma coisa infrutífera e estéril.

“E por que andais ansiosos pelo vestuário?” Não tendes uma censura diária em tudo sobre que demorais os olhos? “Considerai os lírios do campo, como crescem; eles não fiam, nem tecem; e contudo vos digo que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como um deles. Se, pois, Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno” (é cortada, queimada e não mais vista), “não vestirá melhormente a vós, ó vós que sois de diminuta fé?”, vós, a quem Ele fez para duração perpétua e para imagem de sua própria eternidade? Somos, na verdade, de pequenina fé; de outro modo não duvidaríamos de seu amor e cuidado; não, nem por um momento sequer.

19. “Assim, não andeis ansiosos, dizendo: que comeremos,” se não ajuntarmos tesouros sobre a terra? “Que beberemos,” se servirmos a Deus de toda a nossa força, se nossos olhos estiverem simplesmente postos nele? “Ou, com que nos cobriremos,” se não nos conformarmos com este mundo, se desapontarmos àqueles de quem poderíamos alcançar vantagens? “Todas essas coisas buscam os gentios” – os pagãos, que não conhecem a Deus. Mas, quanto a vós, “vosso Pai celestial sabe que tendes necessidade de todas essas coisas.” E Ele vos indicou um caminho infalível para serdes constantemente supridos de tudo: “Buscai primeiramente o reino de Deus e sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.”

20. “Buscai primeiramente o reino de Deus”: antes de dardes lugar a qualquer outra preocupação ou ansiedade, seja vosso cuidado o cuidado de que o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo (que “entregou seu unigênito Filho,” para que, nele crendo, “não pereçamos, mas tenhamos a vida eterna”), impere em vosso coração, manifeste-se em vossa alma e nela habite e reine; que esse especial cuidado “exclua toda eminência que se exalte contra o conhecimento de Deus e escravize todo o pensamento à obediência de Cristo.” Que só Deus tenha domínio sobre vós: que Ele governe sem competidor, que Ele possua todo o vosso coração e o administre sem oposição. Seja Ele o vosso único desejo, vossa alegria, vosso amor, de modo que tudo quanto haja em vós brade sem cessar: “Reina o Senhor Deus Onipotente!”

“Buscai primeiramente o reino de Deus e sua justiça”: A justiça é o fruto do reinado de Deus no coração. E que é justiça, senão amor, amor de Deus e de toda a humanidade, decorrendo da fé em Jesus Cristo, e produzindo humildade de espírito, doçura, afabilidade, longanimidade, paciência, morte para o mundo, e toda disposição correta de coração, no que concerne a Deus e no que respeita ao homem? Essas disposições produzem todas as ações santas, as quais, sejam amáveis ou de boa fama, sejam obras de fé ou trabalho de amor, são, todas elas, aceitáveis a Deus e proveitosas ao homem.

“Sua justiça” – é ainda toda sua justiça: é sua própria dádiva feita a nós, em atenção a Jesus Cristo, o Justo, por meio de quem ela nos foi adquirida; e é a sua obra, que só Ele opera em nós, por inspiração do Espírito Santo.

21. Talvez que, observando bem este ponto, maior luz se projete sobre algumas outras partes das Escrituras, nem sempre entendidas claramente por nós. Paulo, falando em sua Epístola aos Romanos acerca da incredulidade dos judeus, diz: “Eles, sendo ignorantes da justiça de Deus, e querendo estabelecer sua própria justiça, não se submeteram à justiça de Deus.” Creio que o sentido dessas palavras é este: eles eram “ignorantes da justiça de Deus,” não somente da justiça de Cristo, imputada a todo crente, pela qual todos os seus pecados são cancelados e o pecador é restaurado no favor de Deus; mas (o que parece ser ali mais imediatamente ensinado), eram ignorantes daquela justiça interior, daquela santidade de coração, que é com mais propriedade chamada “justiça de Deus;” sendo ao mesmo tempo livre dom mediante Cristo e sua própria obra realizada pelo Todo-poderoso Espírito. E porque eram “ignorantes” disto, chegaram ao extremo de “estabelecer sua própria justiça.” Labutavam por construir aquela justiça exterior que mui acertadamente podia ser qualificada como deles próprios, uma vez que nem era operada pelo Espírito de Deus, nem era aprovada ou aceita por Ele. Eles podiam realizá-la por si mesmos, por sua própria energia natural; quando, porém, tinham feito isso, seu trabalho se tornou de mau odor a seu olfato. Confiando, todavia nisto, não quiseram “submeter-se à justiça de Deus.” Ainda mais: eles se rebelaram contra aquela fé, único meio pelo qual era possível obter a justiça. “Porque Cristo é o fim da lei para a justiça de todo aquele que crê.” Quando Cristo disse: “Tudo está consumado,” pôs fim à lei – à lei dos ritos e cerimônias externos, para que pudesse estabelecer uma justiça melhor através de seu sangue, pela oblação única de si mesmo, oferecida uma vez, assim como a imagem de Deus, no mais íntimo da alma de todo aquele que crê.

22. As palavras do apóstolo em sua Epístola aos Filipenses relacionam-se intimamente com este assunto: “Reputo todas as coisas como esterco, para que eu possa ganhar a Cristo” – obtenha uma entrada em seu reino eterno – “e possa ser achado nele,” crendo nele, “não tendo minha própria justiça, que é da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a justiça que é de Deus pela fé,” – “Não tendo minha própria justiça, que é da lei,” praticava, ao tempo em que esperava ser aceito por Deus porque eu era, “no tocante à justiça que é da lei, irrepreensível,” – mas a que é mediante a fé em Cristo, “a justiça que é de Deus pela fé,” a santidade de coração, a renovação da alma em todos os seus desejos, inclinações e afetos; “que é de Deus” (é obra de Deus e não do homem), “pela fé,” mediante a fé em Cristo, através da revelação de Jesus Cristo em nós, e pela fé em seu sangue, pelo qual recebemos, e só por Ele, a remissão de nossos pecados e herança entre os santos.

23. “Buscai primeiramente” esse “reino de Deus” em vossos corações; essa justiça, que é dom e obra de Deus, a imagem de Deus reavivada em nossas almas, “e todas aquelas coisas vos serão acrescentadas,” todas as coisas necessárias ao corpo, na medida que à vista de Deus concorram melhor para o progresso de seu reino. Serão acrescentadas – serão derramadas, por contrapeso. Buscando a paz e o amor de Deus, achareis não apenas o que procuráveis, isto é, o reino que não pode ser abalado, mas também o que não procuráveis – pelo menos por seu valor intrínseco, mas apenas em referência aos outros. Achareis, em vosso trânsito rumo ao reino, todas as coisas exteriores, na proporção de sua utilidade a vós. Tal cuidado Deus o tomou à sua conta: lançai-o, pois, sobre Ele. Ele conhece vossas necessidades, e, seja o que for que vos falte, Deus o suprirá.

24. “Não cuideis do dia de amanhã.” Não somente não vos angustieis acerca do modo de amontoar tesouros na terra, acerca do modo de crescer em propriedades terrenas: não andeis ansiosos quanto à maneira de reunir maior quantidade de mantimento do que sois capazes de consumir, ou vestuário em maior cópia do que vosso corpo possa ostentar, ou mais dinheiro do que é reclamado pelas despesas de cada dia, para os simples, razoáveis propósitos da vida, mas também não vos afadigueis pelas coisas que sejam mais inadiavelmente necessárias ao corpo. Não vos atormenteis desde já, pensando o que fareis em época ainda distante. Talvez jamais venham semelhantes épocas, ou, vindo, talvez já não tenham interesse para vós: antes de chegarem, já tereis talvez atravessado todas as vagas e apartado às regiões da eternidade. Todas as concepções visando a distância não pertencem a vós, que apenas sois criaturas de um dia. Que fareis, pergunto, do amanhã, mais estritamente falando? Por que estareis perplexos sem necessidade? Deus vos provê hoje do necessário ao sustento da vida que vos concedeu. Basta entregar-vos em suas mãos. Se viverdes mais um dia, Ele proverá também em vista desse novo dia.

25. Acima de tudo, não façais da preocupação do futuro um pretexto à negligência dos deveres presentes. Esta é a mais fatal maneira de “andar ansioso pelo dia de amanhã.” Quão freqüente é essa ânsia entre os homens! Muitos, quando os exortamos a que mantenham uma consciência isenta de pecado, a que se abstenham daquilo que é mau à luz de sua própria convicção, não têm escrúpulos de responder: “Como, então, podemos viver? Não devemos cuidar de nós mesmos e de nossas famílias?” Isto eles imaginam ser uma razão suficiente para que continuem em pecado público e deliberado. Dizem, e pensam talvez, que serviriam agora a Deus, desde que isto não os levasse a perder pouco a pouco o seu pão. Preparar-se-iam para a eternidade, mas temem que lhes falte o necessário à vida. Assim, servem ao demônio por uma côdea de pão; correm para o inferno por medo da miséria; arremessam para longe suas pobres almas com receio de que possam, um ou outro dia, tropeçar no necessário a seus corpos!

Não é para estranhar que os que usurpam a Deus o cuidado de os alimentar fiquem tão freqüentemente decepcionados em face das próprias coisas que eles buscavam; enquanto abrem mão do céu para assegurar a posse dos bens da terra, perdem, na verdade, um, mas não ganham o outro. O zeloso Deus, no curso sábio de sua Providência, freqüentemente permite isso. Assim aqueles que não põem seu cuidado em Deus e que, tornando-se ansiosos pelas coisas temporais, nenhuma importância dão às coisas eternas, acabam exatamente perdendo a porção que haviam escolhido. Há uma devastação bem visível em todos os seus empreendimentos; o que quer que façam não prospera, tanto que, após terem trocado a Deus pelo mundo, perdem tanto aquilo que buscavam como o que não buscavam: ficam em falta do reino de Deus e de sua justiça – e nem as outras coisas lhes são acrescentadas.

26. Ainda existe outro meio de “andar ansioso pelo dia de amanhã,” igualmente proibido nas palavras do texto. É possível andar ansioso de maneira errada, mesmo no tocante às coisas espirituais: andar tão preocupado a respeito do que pode ser adiado, a ponto de esquecer o que de nossas mãos é requerido de pronto. Como somos insensivelmente levados em tal corrente, se nos não mantemos continuamente velando em oração! Como somos facilmente levados por esse mal, como sobre uma espécie de sonhar acordado, projetando programas distantes e pintando formosas cenas em nossa imaginação! Pensamos, então, que faríamos o bem quando estivéssemos em tal lugar ou quando tal tempo viesse! Como seríamos úteis, quão fecundos em boas obras, quando mais amenas nos fossem as circunstâncias! Como intensamente serviríamos a Deus, quando de uma vez se removesse de nosso caminho tal ou qual obstáculo!

Talvez estás agora em abatimento de alma: Deus esconde sua face de ti. Vês pouco da luz de seu rosto: não podes experimentar uma afeição redentora. Em tal estado de mente, quão natural é que digas: “Como glorificarei a Deus, quando a luz de seu rosto se projetar de novo sobre minha alma! Como exortarei os outros a que o glorifiquem, logo seu amor se derrame em meu coração! Então farei grandes coisas; falarei acerca de Deus em toda parte; não me envergonharei do Evangelho de Cristo. Redimirei o tempo; usarei no máximo de todo talento que tenha recebido.” Não creias em ti. Não farás mais tarde aquilo que desde já não fazes. “O que é fiel no pouco,” de qualquer que seja sua espécie, seja de caráter mundano ou de temor e amor de Deus, “será fiel no muito.” Mas se agora enterras um talento, tu enterrarás cinco a seguir, isto é, enterrarás cinco se tantos te forem dados, mas é escassa a razão de esperar que tal aconteça. Na verdade, “àquele que tem,” isto é, que usa aquilo que tem, “será dado, e terá com abundância. Mas àquele que não tem,” isto é, que não usa a graça que recebeu, seja em grau maior ou menor, “será tirado até aquilo que parecia ter.”

27. Não cuides das tentações de amanhã. Este é também um laço perigoso. Não penses: “Quando tal tentação vier, que hei de fazer? Em que estado ficarei? Temo não possuir forças para resistir; não sou capaz de derrotar semelhante inimigo.” Em termos claros: não tens agora a força de que não necessitas de pronto. Não és capaz de derrotar neste instante aquele inimigo; e neste instante ele não te assaltará. Com a graça que agora tens, não poderias resistir às tentações que de presente não te atacam. Quando, porém, vier a tentação, virá também a graça. Nas provações maiores, maior será tua fortaleza. Quando sobram as dores, as consolações de Deus de algum modo superabundam. De modo que, em qualquer contingência, a graça de Deus te é suficiente. Ele não permite “sejas tentado” hoje “além de tuas forças;” e “em toda tentação Ele abrirá caminho à fuga.” “Como teus dias, assim tuas forças serão.”

28. “Deixa,” pois, “que cada dia cuide de si mesmo;” isto e, quando o dia de amanhã vier, pensa nele então. Vive hoje. Seja o teu cuidado mais sério a utilização da hora que passa. Esta é tua e inteiramente tua. O passado é tão vão como o pensamento de coisas que jamais tivessem existido. O futuro é nada para ti; ele não te pertence, e talvez nunca te pertencerá. Não há dependência do que ainda possa vir, porque tu “não sabes o que o dia possa trazer.” Portanto, vive hoje; não percas sequer uma hora; usa este momento, porque esta é a tua parte. “Quem conhece as coisas que foram antes dele, ou que virão depois dele debaixo do sol?” As gerações que eram desde o começo do mundo, agora onde estão elas? Passaram; tornaram-se esquecidas. Elas existiram; viveram seu dia; foram depois varridas da terra, como folhas caídas de velhas árvores: fundiram-se no pó comum! Outra e outra geração lhes sucederam; “estas seguiram os ancestrais, e jamais verão a luz.” Agora chegou tua vez na passagem sobre a terra: “Alegra-te, moço, nos dias de tua juventude!” Alegra-te sem perda de tempo, alegra-te, mas regozijando-te naquele “cujos anos não minguam.” Estejam teus olhos, feitos de simplicidade, postos naquele “em quem não há variação, nem sombra de mudança.” Dá-lhe teu coração desde já; descansa nele desde logo; sê desde o presente santo como Ele é Santo! Agarra-te sem perda de tempo à oportunidade bendita de fazer sua aceitável e perfeita vontade. Regozija-te agora em “suportar a perda de todas as coisas” para que assim possas “ganhar a Cristo.”

29. Sofre hoje, com prazer, por amor de seu nome, já que Ele permite venha este dia sobre ti. Mas não atentes para os sofrimentos de amanhã. “A cada dia basta o seu próprio mal.” Mal, dizemos, usando do vocabulário preferido pelo homem: se se tratar de vergonha ou miséria, pesar ou doença. Mas, na linguagem de Deus, tudo são bênçãos: são um bálsamo precioso, preparado pela sabedoria de Deus e distribuído variavelmente entre seus filhos, segundo as diversas enfermidades de suas almas. Ele dá cada dia o suficiente para cada dia, proporcionalmente à necessidade e à força do paciente. Se, todavia, antecipas a fadiga reservada para amanhã, experimentando-a desde hoje; se adicionas isto ao que te foi dado anteriormente, acumularás uma carga que excede às tuas forças. Tal conduta vem a ser o meio, não de curar, mas de destruir tua própria alma. Recebe, pois, exatamente aquilo que Ele hoje te concede; faze e acata hoje sua vontade! Entrega, hoje, a ti mesmo – teu corpo, alma e espírito –, a Deus, mediante Cristo Jesus, nada desejando senão que Deus seja glorificado em todo teu trabalho, em tudo que fizeres, em tudo que sofreres; nada buscando, senão conhecer a Deus e seu Filho Jesus Cristo, através do Eterno Espírito; nada ambicionando, senão amá-lo, servi-lo e gozá-lo nesta hora, e por toda a eternidade!

E, a “Deus o Pai, que me criou e a todo o mundo;” a “Deus o Filho, que me redimiu e a toda a humanidade;” a “Deus o Espírito Santo, que me santifica e a todo o povo eleito de Deus,” sejam honra e louvor, majestade e domínio, pelos séculos dos séculos! Amém.

Tradução: Nicodemos Nunes

Os Cinco Pontos do Arminianismo

Os Cinco Pontos do Arminianismo

por

Duane Edward Spencer



Um teólogo holandês chamado Jacob Hermann, que viveu de 1560 a 1609, era melhor conhecido pela forma latinizada de seu último nome, Arminius. Ainda que educado na tradição reformada, ele se inclinou para as doutrinas humanistas de Erasmo, porque tinha sérias dúvidas a respeito da graça soberana (de Deus), como era ensinada pelos reformadores. Seus discípulos, chamados arminianos ou sectários de Arminius, disseminaram o ensino de seu mestre. Alguns anos depois da morte de Arminius, eles formularam sua doutrina em cinco pontos principais, conhecidos como Os Cinco Pontos do Arminianismo.

Pelo fato de as igrejas dos Países Baixos, em comum com as principais Igrejas Protestantes da Europa, subscreverem as Doutrinas Reformadas da Bélgica e as Confissões de Heidelberg, os arminianos resolveram fazer uma representação ao Parlamento Holandês. Este protesto contra a Fé Reformada, cuidadosamente escrito, foi submetido ao Estado da Holanda, e, em 1618, um Sínodo Nacional da Igreja reuniu-se em Dort para examinar os ensinos de Arminius à luz das Escrituras. Depois de 154 calorosas sessões, que consumiram sete meses, Os Cinco Pontos do Arminianismo foram considerados contrários ao ensino das Escrituras e declarados heréticos. Ao mesmo tempo, os teólogos reafirmaram a posição sustentada pelos Reformadores Protestantes como consistente com as Escrituras, e formularam aquilo que é hoje conhecido como Os Cinco Pontos do Calvinismo (em honra do grande teólogo francês, João Calvino).

Ao longo dos anos, a estudada resposta do Sínodo de Dort às heresias arminianas tem sido apresentada na forma de um acróstico formado pela palavra TULIP. Daí o nome deste pequeno livro.

Os Cinco Pontos do Calvinismo são:

T Total Depravity Depravação Total
U Unconditional Election Eleição Incondicional
L Limited Atonement Expiação Limitada
I Irresistible Grace Graça Irresistível
P Perseverance of Saints Perseverança dos Santos

Uma vez que vamos examinar, pormenorizadamente, aquilo que os teólogos reformados de Dort querem dizer com os Cinco Pontos cio Calvinismo, retro referidos, consideremos primeiro, sumariamente, os Cinco Pontos do Arminianismo.

1.VONTADE LIVRE : O primeiro ponto do arminianismo sustenta que o homem é dotado de vontade livre.

1.1. Os reformadores reconhecem que o homem foi dotado de vontade livre, mas concordam com a tese de Lutero — defendida em sua obra “A Escravidão da Vontade” —, de que o homem não está livre da escravidão a Satanás.

1.2. Arminius acreditava que a queda do homem não foi total, e sustentou que, no homem, restou bem suficientemente capaz de habilitá-lo a querer aceitar Cristo como Salvador.

2.ELEIÇÃO CONDICIONAL

2.1. Arminius ensinava também que a eleição estava baseada no pré-conhecimento de Deus em relação àquele que deve crer.

2.2. Em outras palavras, o ato de fé, por parte do homem, é a condição para ele ser eleito para a vida eterna, uma vez que Deus previu que ele exerceria livremente sua vontade, num ato de volição positiva para com Cristo.

3.EXPIAÇÃO UNIVERSAL

3.1. Conquanto a convicção posterior de Arminius fosse a de que Deus ama a todos, de que Cristo morreu por todos e de que o Pai não quer que ninguém se perca, ele e seus seguidores sustentam que a redenção (usada casualmente como sinônimo de expiação) é geral. Em outras palavras:

3.2. A morte de Cristo oferece a Deus base para salvar a todos os homens.

3.3. Contudo, cada homem deve exercer sua livre vontade para aceitar a Cristo.

4.A GRAÇA PODE SER IMPEDIDA

4.1. O arminiano, em seguida, crê que uma vez que Deus quer que todos os homens sejam salvos, ele envia seu Santo Espírito para atrair todos os homens a Cristo.

4.2. Contudo, desde que o homem goza de vontade livre absoluta, ele pode resistir à vontade de Deus em relação a sua própria vida. (A ordem arminiana sustenta que, primeiro, o homem exerce sua própria vontade e só depois nasce de novo.)

4.3. Ainda que o arminiano creia que Deus é onipotente, insiste em que a vontade de Deus, em salvar a todos os homens, pode ser frustrada pela finita vontade do homem como indivíduo.

5.O HOMEM PODE CAIR DA GRAÇA

5.1. O quinto ponto do arminianismo é a conseqüência lógica das precedentes posições de seu sistema.
5.2. O homem não pode continuar na salvação, a menos que continue a querer ser salvo.



O CONTRASTE

Quando contrastamos estes Cinco Pontos do Arminianismo com o acróstico TULIP, que forma os Cinco Pontos do Calvinismo, torna-se claro que os cinco pontos deste são diametralmente opostos aos daquele. Para que possamos ver claramente as “linhas de batalha” traçadas pelas afiadas mentes de ambos os lados, comecemos por fazer um breve contraste entre as duas posições à base de ponto por ponto.

PONTO 1

1.1.O arminianismo diz que a vontade do homem é ‘livre’ para escolher, ou a Palavra de Deus, ou a palavra de Satanás. A salvação, portanto, depende da obra de sua fé.

1.2.O calvinismo responde que o homem não regenerado é absolutamente escravo de Satanás, e, por isso, é totalmente incapaz de exercer sua própria vontade livremente (para salvar-se), dependendo, portanto, da obra de Deus, que deve vivificar o homem, antes que este possa crer em Cristo.

PONTO 2

2.1.Arminius sustentava que a ‘eleição’ é condicional, enquanto os reformadores sustentavam que ela é incondicional. Os arminianos acreditam que Deus elegeu àqueles a quem ‘pré-conheceu’, sabendo que aceitariam a salvação, de modo que o pré-conhecimento [de Deus] estava baseado na condição estabelecida pelo homem.

2.2 Os calvinistas sustentam que o pré-conhecimento de Deus está baseado no propósito ou no plano de Deus, de modo que a eleição não está baseada em alguma condição imaginária inventada pelo homem, mas resulta da livre vontade do Criador à parte de qualquer obra de fé do homem espiritualmente morto.

2.3 Dever-se-á notar ainda que a segunda posição de cada um destes partidos (arminianos e calvinistas) é expressão natural de suas respectivas doutrinas a respeito do homem. Se o homem tem “vontade livre”, e não é escravo nem de Satanás nem do pecado, então ele é capaz de criar a condição pela qual Deus pode elegê-lo e salvá-lo. Contudo, se o homem não tem vontade livre, mas, em sua atual situação, é escravo de Satanás e do pecado, então sua única esperança é que Deus o tenha escolhido por sua livre vontade e o tenha elegido para a
salvação.

PONTO 3

Os arminianos insistem em que a expiação (e, por esta palavra, eles significam ‘redenção’) é universal. Os calvinistas, por sua vez, insistem em que a Redenção é parcial, isto é, a Expiação Limitada é feita por Cristo na cruz.

3.1. Segundo o arminianismo, Cristo morreu para salvar não um em particular, porém somente àqueles que exercem sua vontade livre e aceitam o oferecimento de vida eterna. Daí, a morte de Cristo foi um fracasso parcial, uma vez que os que têm volição negativa, isto é, os que não a querem aceitar, irão para o inferno.

3.2. Para o calvinismo, Cristo morreu para salvar pessoas determinadas, que lhe foram dadas pelo Pai desde toda a eternidade. Sua morte, portanto, foi cem por cento bem sucedida, porque todos aqueles pelos quais ele não morreu receberão a “justiça” de Deus, quando forem lançados no inferno.

PONTO 4

4.1.Os arminianos afirmam que, ainda que o Espírito Santo procure levar todos os homens a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a humanidade e deseja salvar a todos os homens), ainda assim, como a vontade de Deus está amarrada à vontade do homem, o Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo homem, se o homem assim o quiser. Desde que só o homem pode determinar se quer ou não ser salvo, é evidente que Deus, pelo menos, ‘permite’ ao homem obstruir sua santa vontade. Assim, Deus se mostra impotente em face da vontade do homem, de modo que a criatura pode ser como Deus, exatamente como Satanás prometeu a Eva, no jardim [do Éden].

4.2. Os calvinistas respondem que a graça de Deus não pode ser obstruída, visto que sua graça é irresistível. Os calvinistas não querem significar com isso que Deus esmaga a vontade obstinada do homem como um gigantesco rolo compressor! A graça irresistível não está baseada na onipotência de Deus, ainda que poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está baseada mais no dom da vida, conhecido como regeneração. Desde que todos os espíritos mortos (alienados de Deus) são levados a Satanás, o deus dos mortos, e todos os espíritos vivos (regenerados) são guiados irresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos), nosso Senhor, simplesmente, dá a seus escolhidos o Espírito de Vida.
No momento em que Deus age nos eleitos, a polaridade espiritual deles é mudada: Antes estavam mortos em delitos e pecados, e orientados para Satanás; agora são vivificados em Cristo, e orientados para Deus.

É neste ponto que aparece outra grande diferença entre a teologia arminiana e a teologia calvinista. Para os calvinistas, a ordem é: primeiro o dom da vida, por parte de Deus; e, depois, a fé salvadora, por parte do homem.

PONTO 5

511. Os arminianos concluem, muito logicamente, que o homem, sendo salvo por um ato de sua própria vontade livremente exercida, aceitando a Cristo por sua própria decisão, pode também perder-se depois de ter sido salvo, se resolver mudar de atitude para com Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos acrescentariam que o homem pode perder, subseqüentemente, sua salvação, cometendo algum pecado, uma vez que a teologia arminiana é uma “teologia de obras” — pelo menos no sentido e na extensão em que o homem precisa exercer sua própria vontade para ser salvo.) Esta possibilidade de perder-se, depois de ter sido salvo, é chamada de “queda (ou perda) da graça”, pelos seguidores de Arminius. Ainda, se depois de ter sido salva, a pessoa pode perder-se, ela pode tornar-se livremente a Cristo outra vez e, arrependendo-se de seus pecados, “pode ser salva de novo”. Tudo depende de sua contínua volição positiva até à morte!

5.2. Os calvinistas sustentam muito simplesmente que a salvação, desde que é obra realizada inteiramente pelo Senhor — e que o homem nada tem a fazer antes, absolutamente, “para ser salvo” —, é óbvio que o “permanecer salvo” é, também, obra de Deus, à parte de qualquer bem ou mal que o eleito possa praticar. Os eleitos ‘perseverarão’ pela simples razão de que Deus prometeu completar, em nós, a obra que ele começou. Por isso, os cinco pontos de TULIP incluem a Perseverança dos Santos.

Graça Livre ou Graça Forçada?

Graça Livre ou Graça Forçada?

Steve Witski

Em seu bem conhecido sermão “Graça Livre,” John Wesley disse que a “graça ou amor de Deus, a fonte de nossa salvação, é LIVRE EM TODOS, e LIVRE PARA TODOS” [Works, 7:373]. Neste sermão ele respondeu diretamente aos professores calvinistas da época que ensinavam que a graça amorosa de Deus não é livre para todos mas irresistivelmente forçada sobre apenas alguns – os eleitos. Wesley acreditava que as Escrituras não apoiavam tal ensino.

Assim como nos dias de Wesley, os calvinistas de hoje em dia ensinam que a graça de Deus não é livre para todos mas forçada sobre apenas alguns. Alguns de meus irmãos calvinistas objetariam ao uso da palavra “forçar” para descrever a obra irresistível da graça de Deus sobre os corações dos eleitos. Todavia, me parece que estou justificado em usar tal palavra já que os calvinistas usam o equivalente dela em seus textos. Isto se tornará mais claro conforme avançarmos pelo artigo.

Os calvinistas apelam tipicamente para a graça irresistível de Deus a partir de Jo 6.44, “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” O teólogo reformado R. C. Sproul diz que este versículo “ensina pelo menos isto: Não está dentro da capacidade natural do homem decaído vir a Cristo por si próprio, sem algum tipo de assistência divina” [Eleitos de Deus, p. 50]. Podemos ver que Wesley está de completo acordo com a afirmação de Sproul quando escreve, “O livre-arbítrio natural, no presente estado da humanidade, eu não reconheço; eu somente afirmo que há uma medida de livre-arbítrio sobrenaturalmente restaurada em cada um, junto com aquela luz sobrenatural que ‘ilumina a todo o homem que vem ao mundo’” [Works, 10:229-30].

Wesley ensinava que essa assistência divina era absolutamente necessária para cada pessoa vir a Cristo em fé. Esta assistência graciosa vem antes ou preveniente a cada movimento do homem em direção a Deus. A humanidade é incapaz de fazer o menor movimento em direção a Cristo em sua condição caída sem que Deus primeiro tome a iniciativa amorosa e redentora.

O desacordo entre calvinistas e arminianos seria sobre o significado da palavra trouxer em Jo 6.44; se este trazer ou assistência divina é irresistível ou resistível, e se ele se estende a todas as pessoas como sugere Jo 12.32, ou apenas a algumas pessoas. Precisamos ter em mente que há uma enorme diferença entre ser irresistivelmente compelido ou forçado a crer em Cristo e ser graciosamente capacitado a crer.

A posição de Sproul é óbvia de suas seguintes palavras: “O Dicionário Teológico do Novo Testamento, de Kittel, define-a como significando compelir por irresistível superioridade. Lingüisticamente e lexicograficamente, a palavra significa ‘compelir.’” [Eleitos de Deus, p. 51; Grace Unknown, p. 153]. Ele ainda argumenta em favor deste significado apelando a dois textos adicionais: Tg 2.6 e At 16.19. Ele chama a atenção que ambos os textos traduzem a palavra grega helkuo como “arrastar” e portanto Jo 6.44 não pode significar cortejar ou persuadir amorosamente como alguns arminianos afirmam [p. 69].

Outro teólogo reformado, Loraine Boettner, estaria de acordo com Sproul como se vê como ele insere as seguintes palavras em Jo 6.44: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer [literalmente, arrastar]” [The Reformed Faith, p. 11].

O calvinista Robert W. Yarbrough apresenta o mesmo argumento que Sproul só que com mais detalhes. Ele escreve,

“Trazer” em 6.44 traduz o grego helkuo. Fora de João ele aparece no Novo Testamento somente em At 16.19: “prenderam Paulo e Silas, e os levaram à praça....” O Evangelho de João usa a palavra para falar de pessoas sendo atraídas a Cristo (12.32), uma espada sendo desembainhada (18.10), e uma rede cheia de peixes sendo puxada ou arrastada para a praia (21.6, 11). A forma relacionada de helko aparece em At 21.30 (“o arrastaram para fora do templo”) e Tg 2.6 (“Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?”). É difícil evitar a impressão de que Jo 6.44 refere-se a uma “atração vigorosa” ao trazer os pecadores ao Filho [“Divine Election in the Gospel of John,” em Still Sovereign, p. 50, n. 10].

Há alguns problemas com a abordagem tanto de Yarbrough quanto de Sproul no entendimento da palavra trazer em Jo 6.44. O primeiro é que seu método de olhar para helkuo é um exemplo de uma falácia de estudo da palavra conhecida como “carregar-palavra.” Isto ocorre quando uma pessoa pega o significado de uma palavra em um contexto e então busca aplicar esse mesmo significado em um contexto diferente. Ambos fazem isto quando apelam para o uso de helkuo em Tg 2.6, At 16.19 e outras passagens, como justificativa para entender Jo 6.44 como significando arrastar ou forçar.

Em segundo lugar, embora Yarbrough não cita nenhuma obra de referência para apoiar as suas conclusões, Sproul pelo menos cita uma, o Dicionário Teológico do Novo Testamento, de Kittel [TNDT]. Após pesquisar a definição no “Grande” Kittel por mim mesmo, fiquei surpreso ao descobrir que ela não concorda com a definição de Sproul de trazer. Albrecht Oepke comenta que no uso de João da palavra helkuo “força ou magia pode ser desconsiderada, mas não o elemento sobrenatural” [TDNT, 2:503]. Contudo, para a definição de Sproul se sustentar, o uso de João deve significar compelir ou forçar. Quando me virei para descobrir o que o “Pequeno” Kittel (a edição condensada em um volume da imensa obra de dez volumes de Kittel) tinha a dizer sobre “trazer,” fiquei chocado com o que ele tinha a dizer em comparação com as afirmações dogmáticas de Sproul. Aqui está o comentário completo conforme traduzido e condensado por Geoffrey Bromiley:

O significado básico é “trazer,” “arrastar” ou, no caso de pessoas, “compelir.” Ele pode ser usado para “atrair” para um lugar por magia, para demônios sendo “puxados” à vida animal, ou para a influência interior da vontade (Platão). O mundo semítico tinha o conceito de uma atração irresistível de Deus (cf. 1Sm 10.5; 19.19ff; Jr 29.26; Os 9.7). No Antigo Testamento helkein denota um impulso poderoso, como em Ct 1.4, que é obscuro mas expressa a força do amor. Este é o ponto nas duas importantes passagens em Jo 6.44; 12.32. Não há nenhuma idéia aqui de força ou magia. O termo figuradamente expressa o poder sobrenatural do amor de Deus ou Cristo que sai para todos (12.32) mas sem o qual ninguém pode vir (6.44). A aparente contradição mostra que ambas a eleição e a universalidade da graça devem ser entendidas com seriedade; a compulsão não é automática [p. 227].

O quê? A compulsão não é automática? Mas isto é exatamente o que Sproul e outros calvinistas afirmam que helkuo significa em Jo 6.44 – Deus literalmente e irresistivelmente compele, arrasta ou força os eleitos a virem a Cristo. Sim, helkuo pode literalmente significar arrastar, compelir ou forçar em certos contextos (Jo 18.10; 21.6, 11; At 16.19; 21.30; e Tg 2.6), mas não é o significado lexical para o contexto de Jo 6.44, nem, a propósito, Jo 12.32. Sproul confiantemente afirma que “lingüisticamente e lexicograficamente, a palavra significa compelir,” mas onde está a citação de toda a evidência lexical para apoiar esta afirmação?

O Significado Lexical da Palavra “Trazer” em Jo 6.44 e 12.32

Fiz uma pesquisa em todo Léxico, Dicionário Exegético e Dicionário Grego-Ingles disponível, que eu pude encontrar em livrarias, Seminários e bibliotecas de Faculdade que tenho acesso. Aqui está uma amostra da evidência:

A Greek-English Lexicon of the New Testament and other Early Christian Literature diz que helkuo é usado figuradamente “da atração sobre a vida interior do homem… atrair, seduzir, Jo 6.44” [Bauer, Arndt, Gingrich, Danker, p. 251].

The Analytical Lexicon to the Greek New Testament afirma que helkuo é usado metaforicamente para “atrair mentalmente e moralmente, Jo 6.44; 12.32” [William Mounce, p. 180].

The Greek-English Lexicon to the New Testament tem “metaforicamente, atrair, isto é, seduzir, Jo 12.32. Cf. Jo 6.44” [W. J. Hickie, p. 13].

The Analytical Lexicon of the Greek New Testament de Timothy Friberg, Barbara Friberg e Neva F. Miller diz “figuradamente, de uma forte atração na vida mental e moral, atrair, seduzir (Jo 6.44)” [p. 144].

O calvinista Spiros Zodhiates, em seu Hebrew-Greek Key Study Bible, diz que “helkuo é usado de Jesus na cruz atraindo por Seu amor, não pela força (Jo 6.44; 12.32)” [New Testament Lexical Aids, p. 1831].

Eu poderia citar pelo menos mais oito obras de referência mas é desnecessário porque nenhuma única obra define trazer em Jo 6.44 como “compelir ou forçar.” Claramente, R. C. Sproul não fez seu dever de casa. Sem permissão ou justificativa, ele recorreu a uma única fonte que nem ao menos apóia as suas conclusões calvinistas. Ele, consciente ou inconscientemente, ignorou a esmagadora evidência lexical que milita contra sua teologia reformada. Para ainda aumentar seu erro, ele cometeu uma falácia básica de estudo da palavra na tentativa de amparar suas afirmações dogmáticas. É surpreendente encontrar um filósofo ou teólogo de seu calibre cometendo tais erros óbvios em sua obra. O Calvinismo depende em grande quantidade deste equivocado entendimento de trazer para apoiar suas doutrinas da predestinação e da graça irresistível. Todavia, eles são deixados sem qualquer justificativa lexical para sua opinião.

Vamos rever os últimos poucos comentários sobre a palavra trazer do “pequeno” Kittel:

Não há nenhuma idéia aqui de força ou magia. O termo figuradamente expressa o poder sobrenatural do amor de Deus ou Cristo que sai para todos (12.32) mas sem o qual ninguém pode vir (6.44). A aparente contradição mostra que ambas a eleição e a universalidade da graça devem ser entendidas com seriedade; a compulsão não é automática.

O que é irônico em toda esta discussão é que a definição acima coincide maravilhosamente com a doutrina wesleyana-arminiana da graça preveniente – uma doutrina que R. C. Sproul nega que a Bíblia ensina [pp. 91-93]. Os wesleyanos-arminianos acreditam que a graça divina opera nos corações e vontades de cada pessoa para induzir uma resposta de fé ou como Thomas Oden afirma tão bem, “O amor de Deus capacita precisamente aquela resposta no pecador que a santidade de Deus exige: confiança na própria auto-entrega de Deus” [The Transforming Power of Grace, p. 45].

A graça preveniente ou assistente de Deus está moralmente atraindo todas as pessoas a Si mesmo (Jo 12.32). Esta obra graciosa de Deus não compele ou força alguém a crer mas capacita todos a responder aos comandos de Deus para desviarem-se do pecado em arrependimento, e em direção ao Salvador Jesus Cristo em fé. Dessa forma, com o mesmo vigor do Calvinismo, a salvação pode ser atribuída completamente a Deus, mas sem negar a responsabilidade humana genuína que o Calvinismo nega.

O que também é irônico é que o entendimento de Wesley de “trazer” em sua Notas Explicativas sobre o Novo Testamento está completamente de acordo com a evidência lexical que já observamos. Ele diz de Jo 6.44: “Ninguém pode crer em Cristo, a menos que Deus o dê capacidade. Ele nos atrai primeiramente pelos bons desejos, não pela compulsão, não por colocar a vontade sob alguma necessidade, mas pelos fortes e amáveis, todavia ainda resistíveis movimentos de Sua graça divina” [pp. 328-329].

Eu gostaria de notar que várias vezes nos ensinos de Wesley vemos que ele afasta esta noção de que Deus usa a graça irresistível para forçar ou compelir as pessoas a crer em Cristo. Gostaria de primeiramente mencionar esses exemplos nas Notas Explicativas sobre o Novo Testamento de Wesley e então aqueles outros em suas Obras.

Jesus disse em Mt 16.24, “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” Wesley respondeu a estas palavras com... “Ninguém é forçado; mas se alguém quiser ser um cristão, deve ser nestes termos. Renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz – Uma regra que nunca é demais observá-la” [Notas Explicativas, p. 83]. No final da Parábola do Grande Banquete no evangelho de Lucas, Jesus disse, “E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha” (14.23). A isto Wesley respondeu, “Força-os a entrar – Com toda a violência do amor, e a força da Palavra de Deus. Esta compulsão, e esta somente, em questões de religião, foi usada por Cristo e Seus discípulos” [Notas Explicativas, p. 258]. O argumento de Paulo encontrado em At 17.24-28, que Deus Se revelou através de Sua criação e cuidado providencial para que as pessoas “buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar,” é interpretado por Wesley como significando: “O caminho está aberto; Deus está disposto a ser encontrado, mas Ele não usará a força sobre o homem” [Notas Explicativas, p. 465]. Quando Paulo se defendeu diante do Rei Agripa em Atos capítulo vinte e seis ele disse estas palavras, “Por isso, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial [de Cristo na estrada para Damasco]” (v. 19). Wesley comentou, “Não fui desobediente – Eu obedeci; usei esse poder (Gl 1.16). De forma que até esta força pela qual São Paulo foi influenciado não era irresistível” [Notas Explicativas, p. 501]. Em resposta às palavras familiares encontradas em 1Tm 2.3, 4, Wesley diz, “...quer que todos os homens se salvem. É estranho que qualquer um que Ele verdadeiramente salvou duvide da universalidade de Sua graça! Quer seriamente que todos os homens – Não uma parte apenas, muito menos a menor parte. Se salvem – Eternamente. Isto é tratado nos versículos 5 e 6. E a fim de que venham – Eles não são compelidos. Ao conhecimento da verdade – Que traz salvação” [Notas Explicativas, p. 774, 775]. Em Apocalipse capítulo dois Jesus diz que ele dá a uma falsa profetisa na Igreja de Tiatira “tempo para que se arrependesse da sua prostituição”, todavia “não se arrependeu” (v. 21). As notas de Wesley dizem, “E dei-lhe tempo para que se arrependesse – Tão grande é o poder de Cristo! E não se arrependeu – Assim, embora o arrependimento seja dom de Deus, o homem pode recusá-lo; Deus não irá compelir” [Notas Explicativas, p. 948].

No sermão “A Expansão Geral do Evangelho” Wesley responde a um homem acerca da idéia que Deus age irresistivelmente sobre as almas dos homens. Ele escreve,

Você sabe como Deus trabalhou em sua própria alma, quando ele primeiro o capacitou a dizer, “A vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.” Ele não tirou o seu entendimento, mas o iluminou e o reforçou. Ele não destruiu quaisquer de suas afeições; antes, elas ficaram mais vigorosas do que antes. E menos ainda ele tirou a sua liberdade; seu poder de escolher o bem ou o mal: Ele não o forçou; mas, sendo assistido pela sua graça, você, como Maria, escolheu a melhor parte. Da mesma forma ele assistiu cinco em uma casa a fazer essa feliz escolha; cinqüenta ou quinhentos em uma cidade, e muitos milhares em uma nação, sem privar qualquer um deles daquela liberdade que é essencial a um agente moral [Obras, 6:280]

No sermão de Wesley “Sobre a Veste Nupcial,” tirado de Mt 22, ele conclui sua mensagem dizendo:

O Deus de amor deseja salvar todas as almas que ele criou. Isto ele lhes proclamou em sua palavra, junto com os termos da salvação, revelados pelo Filho do seu amor, que deu sua própria vida para que aqueles que nele crêem possam ter a vida eterna. E para estes ele preparou um reino, desde a fundação do mundo. Mas ele não os forçará a aceitá-lo; ele os deixa nas mãos de seu próprio conselho; ele diz, “Tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas.” [Obras, 7:317]

Em “A Predestinação Calmamente Considerada,” Wesley afirma que a graça livre e assistente de Deus está muito mais de acordo com a sabedoria e plano de Deus de salvar os pecadores do que através da graça irresistível. Ele diz,

Quão gloriosamente a multiforme sabedoria de Deus aparece em toda a administração da salvação do homem! Desejando que todos os homens se salvem, todavia não querendo forçá-los a isso; desejando que todos os homens se salvem, todavia não como árvores ou pedras, mas como homens, como criaturas racionais, dotadas de entendimento para discernir o que é bom, e liberdade para aceitá-la ou recusá-la” [Obras, 10:232].

Wesley continua e diz que Deus executa este sábio plano iluminando o entendimento dos homens acerca do bem e do mal e convencendo-os de seu pecado quando eles violam sua consciência dada por Deus. Ele acrescenta que Deus também “amavelmente move sua vontade, ele os atrai e persuade, por assim dizer, a caminhar na luz” [Obras, 10:232, 233]. Deus, em sua sabedoria, prossegue neste caminho “para salvar o homem como homem; para pôr a vida e a morte diante dele, e então o persuade (não o força) a escolher a vida” [Obras, 10:233]. Com Deus graciosamente movendo neste caminho, os homens são considerados responsáveis por sua resposta à Sua graça amorosa. Visto que Deus tomou estas graciosas iniciativas em direção ao homem caído para redimi-lo, Wesley disse que Deus poderia justamente responder, “‘Que mais se podia fazer’ por vocês (consistente com meu eterno propósito, para não forçá-los) ‘que eu lhe não tenha feito?’” [Obras, 10:233].

Este é de fato uma plano sábio e maravilhoso de um Deus soberano para salvar os pecadores. Wesley explicou bem que um Deus soberano não “força uma pessoa para a glória eterna,” e outra “para o fogo eterno” pois tal ação seria inteiramente inconsistente com o caráter de Deus nosso justo e íntegro Governador [“Considerações sobre a Soberania de Deus,” Obras 10:362, 363].

Ser um arminiano é ser, como Wesley disse, um amante da graça livre. Todas as pessoas compartilham da graça livre e capacitante de Deus. Por essa razão, Deus pode justamente conceder a vida eterna ou a morte eterna dependendo de como as pessoas usam sua liberdade capacitada pela graça. O Calvinismo não tem a palavra “trazer” de Jo 6.44 para usar em seu favor para ensinar suas doutrinas da predestinação e da graça irresistível. Por outro lado, os wesleyanos-arminianos têm a evidência lexical em seu favor para ensinar que a “graça ou amor de Deus, a fonte de nossa salvação, é LIVRE EM TODOS, e LIVRE PARA TODOS.” Vamos, no poder do Espírito de Deus, poderosamente proclamar esta verdade bíblica em nossas igrejas hoje.

Tradução: Paulo Cesar Antunes

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Velho Testamento I (Parte IV - Josué)

EXERCICIO
Complete:
54)No livro de Josué_____________está agora em condições de tomar posse de Canaã e cumprir sua missão de ser testemunha as nações quanto a sua unidade, e defensor da Palavra e Lei de Deus.
55)Nos livros históricos, começando com Josué, veremos se _______________cumpriu ou não a sua missão
56)______________é livro de vitória e de possessão, que apresenta o quadro de Israel, outrora rebelde, agora transformado num exercito disciplinado de guerreiros, subjugando nações, que lhe eram superiores em número e poder
57)O segredo de seu êxoto de Israel não é dificil de conhecer:“O______________pelejou por eles”.
58)Tomando a fidelidade de Deus como pensamento central, poderiamos fazer um resumo da mensagem de _____________nas palavras de 21:45: “Nenhuma promessa falhou de todas as boas palavras que o Senhor falara à casa de Israel; tudo se cumpriu”.
59)O Autor humano do livro de Josué foi ___________________com execeção dos últimos cinco versiculos
60)O livro de _______________foi escrito durante o tempo em que vivia Raabe
61)O ________________do livro de Josué pode ser dividido em quatro partes: A entrada na terra (1-5). A terra subjugada (6-12). A terra dividida (13-22). A despedida de Josué (23-24)
62)O anjo que apareceu a Josué era, possivelmente, um dos casos de ___________________
63)Teofania é um dos casos da manifestação de ___________Cristo no Antigo Testamento
64)A grande lição do episódio da aliança com os________________é que em todas as decisões da vida devemos buscar a vontade de Deus e orar pedindo sua sabedoria e orientação, para evitarmos grandes tragédias e tristes decepções
65)Não sabemos que recurso natural Deus usou para prolongar este dia em que o sol parou a pedido de Josué. Ele pode ter reduzido a rotação da____________-inclinado a___________no seu eixo ou uma refração dos raios solares. Seja o que foi a verdade é que Deus alongou o dia em resposta a oração de um servo seu
66)A verdade é que o Deus que criou a natureza, pode mudar o curso natural de qualquer um dos seus elementos para satisfazer os seus_________________________
67)Ao criar o homem Deus colocou no _______________um dom que condiciona a ação divina na vida do mesmo, quer seja nas questões materiais ou nas espirituais. Este dom é a Livre ________________________a condição “individual” de escolher de que lado quer ficar, se o de Deus ou o outro. Depende de cada um a quem quer servir.

Velho Testamento I (Parte III - Josué)

3)A Terra Dividida:
1) Sendo que o titulo acima resume o conteudo da seção inteira, será desnecessário um esboço detalhado
2) Os israelitas acomodaram-se e não conquistaram todas as terras que o Senhor queria que fossem conquistadas (13:1)
4)A Despedida de Josué:
1) Josué encarregou os israelitas de cultivarem amor e comunhão com Deus (23:13; Dt 7:7; 13; 11:1; 19:9)
a) Josué congregou a todo o Israel e levou o povo a renovar o concerto com Deus jurando fidelidade e dedicação
b) Josué não destacou a sua atuação como lider mais a bondosa atenção de Deus para com Israel no passado admoestando varias vezes ao povo para permanecer em lealdade para com Deus (24:2-28)
c)Fica a lição para os dirigentes do povo de Deus nos dias atuais, para terem o mesmo zelo pelo nome do Senhor
d) Os lideres espirituais do povo de Deus na atualidade necessitamos aprendemos com Josué a vivermos somente para Deus amarmos somente a Deus e nos separarmos da pratica de vida do mundo atual
2) Uma condição para o povo de Deus (24:15):
a) Ao criar o homem Deus colocou no homem um dom que condiciona a ação divina na vida do mesmo, quer seja nas questões materiais ou nas espirituais. Este dom é a Livre Escolha, a condição “individual” de escolher de que lado quer ficar, se o de Deus ou o outro. Depende de cada um a quem quer servir.
b) Neste versiculo vemos que vez por outra é necessário reafirmar o nosso compromisso de permanecer na fé e obediência a Deus. Esta reafirmação inclui temor ao Senhor, lealdade a verdade, obediência sincera e renuncia ao pecado com todos os seus prazeres carnais (24:14-16; 1:16-18; Dt 30:19-20)
c) Deixar de servir e amar ao Senhor acima de todas as coisas resultará depois em julgamento e condenação eterna (24:20; 23:11-13)
d) A esta convocação de Josué o povo respondeu afirmativamente com uma renovação do concerto com Deus (24:16-25)
e) Esta renovação da aliança de Deus com os israelitas tem dois compromissos:
i – Deus comprometeu-se em cuidar do Seu povo e
ii – O povo de Israel comprometeu-se em servir exclusivamente ao Senhor Deus
f) Este pacto foi permanente e muito entre Deus e o Seu povo
g) Segundo o novo concerto entre Deus e os homens em Cristo Jesus, o cristão também se compromete em servir a Cristo por meio da fé, o arrependimento e obediência aos seus ensinamentos. Cristo por sua vez compromete-se em tornar-se o Salvador e Senhor, bem como, nos conduzir ao lar celestial, a presença do Pai Eterno
h) Quando pesquisamos a história de Israel, descobrimos que Israel não cumpriu na integra o seu compromisso. Entretanto Deus sempre os perdoou quando arrependido voltava-se para Ele (24:23)

Velho Testamento I (Parte II - Josué)

2)A Terra Subjugada:
1) A conquista de Jericó (6):
a) Josué advertiu para não se aproveitar nada de Jericó a não ser a prata e ouro para a casa do Senhor (6:17-19)
b) Josué amaldiçoou quem reedificasse Jericó (6:26; 1Rs 16:34)
2) O pecado de Acã (7):
a) O incidente do pecado de Acã nos revela varios principios do julgamento Divino levando em consideração as consequencias deste pecado sobre os israelitas, a sua familia e também o castigo de Deus sobre os desobedientes.
b) Uma lição a ser aprendida é que quando há pecado grave, ou tolerância com o mesmo no povo de Deus, a bênção divina diminui ou fica impedida. Deus é Santo e por isso não pode abençoar um povo que se recusa a tirar o pecado do seu meio (7:11-13,20,25; 1Co 5:1-13).
c)Quando o pecado é tolerado no meio do povo de Deus expóe toda a comunidade aos ataques de satanás (7:4-13)
d) Se o pecado for corrigido, virá à bênção de Deus em toda a comunidade porém se não, virá a maldição sobre todos (7:13,22,26; 8:1,18,19; At 4:31-5.11)
e) Por ultimo, devemos aprender com este episódio que o pecado ser tratado como assunto da máxima gravidade, sabendo que Deus ama o pecador mais abomina o pecado
f) É preciso preservar a pureza e demandar a obediência incondicional a Deus, pois caso contrário, o crescimento da Igreja diminuirá ou parará totalmente (Ap 3:1-3,14-18)
3)A conquista de Ai (8):
a) Deus conforta a Josué e em seguida promete entregar Ai em suas mão (8:1,2).
b) Treinamento e estratégia para a conquista de Ai (8:3-13)
c) Os israelitas forçam o rei e os exercitos de Ai a sairem em perseguição fingindo uma retirada conquistam a cidade de Ai (8:14-29)
d) Josué edifica um altar ao Senhor e celebra a conquista de Ai (30-35)
4)Relações com os gibeonitas (9,10):
a) Josué e os lideres de Israel não oraram para buscarem a vontade de Deus quanto à proposta dos gibeonitas (9:18; 2Sm 21:1,2)
b) Esta decisão precipitada de Josué e os lideres de Israel trouxeram os cananeus para os arraiais dos israelitas, o que era proibido por Deus visto que os gibeonitas eram amorreus, portanto, um dos povos que habitavam Canaã (2Sm 21:2; Gn 10:15,16)
c) A grande lição deste episódio é que em todas as decisões da vida devemos buscar a vontade de Deus e orar pedindo sua sabedoria e orientação, para evitarmos grandes tragédias e tristes decepções
d) No capitulo 10 existe o relato do dia em que o sol parou (10:12-15)
e) Não sabemos que recurso natural Deus usou para prolongar este dia. Deus pode ter reduzido a rotação da terra, inclinado a terra no seu eixo ou uma refração dos raios solares. Seja o que foi a verdade é que Deus alongou o dia em resposta a oração de um servo seu
f) A verdade é que o Deus que criou a natureza, pode mudar o curso natural de qualquer um dos seus elementos para satisfazer os seus propósitos (Is 38:7,8)
5)A conquista final da terra (11,12)
a) Deus promete lançar fora os cananeus de diante dos filhos de Israel, se os mesmos cumprirem o propósito de andar em obediência ao Senhor. Como Israel desobedeceu no dever de expulsar todos os habitantes da terra Prometida, Deus permitiu que alguns ficassem, isto trouxe muitos problemas aos israelitas, principalmente o de serem idólatras
b) A grande lição aqui é de que Deus não tem obrigação de cumprir suas promessas se não formos incondicionalmente fieis a Ele.