quinta-feira, 21 de abril de 2011

História do Metodismo no Brasil (Parte 09)

A oposição ao trabalho
Não se faz esperar muito a reação contra a obra iniciada pelos metodistas. Já o Rev. Spaulding, em carta de 24 de julho de 1838, se refere a mesma, embora ate então nenhuma pessoa se tivesse convertido a Cristo. O interesse despertado pelas Escrituras, além da distribuição de folhetos, começou a preocupar a alguns católicos fanaticos ou menos esclarecidos, sobretudo entre o clero. Logo surgiu o semanario O Católico com o objetivo de combater a obra missionaria, mas nao tendo sido muito feliz, reapareceu mais tarde sob o titulo de O Católico Fluminense. Todavia, o povo nao lhe deu grande importancia, nem os missionarios perderam tempo em responder as suas diatribes. Os artigos ao inves de granjearem a simpatia do publico, levavam mais gente a querer examinar a Biblia. Assim, o referido jornal cessou de atuar ao termino de poucos meses.
Nesse interim também alguns clérigos resolveram embargar-lhes a semeadura, servindo-se do pulpito, do confessionario e da imprensa. O mais conhecido deles foi o Padre Luis Gonçalves dos Santos (1767 - 1844), apelidado o Perereca, autor das Memórias para a Historia do Reino do Brasil. Em linguagem ferina e, por vezes maldosa, escreveu tres obras verberando a propaganda evangelica que os metodistas vinham efetuando. Foram publicadas em 1837, 1838 e 1839, tendo como titulos, respectivamente: Desagravo do clero e do povo catholico fluminense ou Refutação das mentiras e calúnias de hum impostor que se intitula missionario do Rio de Janeiro; Antidoto Catholico contra o veneno Metodista ou refutação do segundo relatório do Intitulado missionario do Rio de Janeiro; O Catholico e o Methodista, ou refutação das doutrinas heréticas e falsas, que os intitulados missionarios do Rio de Janeiro, Methodistas de New York tem vulgarisado nesta Côrte do Império do Brasil, por meio de huns impressos chamados tracts, com o fim de fazer proselitos para a sua seita; Refutação do texto do tratado dos Methodistas...Esta última saida a lume posteriormente e impressa em Niterói. As demais foram-no pela Imprensa Americana de I.P. da Costa, no Rio de Janeiro. A mais volumosa é a terceira, ou seja O Catholico e o Methodista...que abrange 230 páginas, sem incluir as 27 da introdução. Nela refuta 60 textos colhidos nos folhetos de Spaulding e Kidder, e apresenta nas últimas paginas Provas do Maquiavelismo dos Methodistas, além de um Apendice Curioso dedicado ao nosso missionario do Rio de Janeiro, e companhia.
Dois trechos da mesma servem para demonstrar o impacto causado pelo trabalho dos missionarios metodistas, bem como a virulência do contendor:
"Como é possivel que na Corte do Império da Terra de Santa Cruz, a face do seu imperador, e de todas as autoridades eclesiásticas e seculares, se apresentem homens leigos, casados, com filhos, denominados Missionarios do Rio de Janeiro, enviados de New York, por outros tais como eles, protestantes calvinistas, para pregar Jesus Cristo aos Fluminenses?" E ainda, noutro trecho, aceverava o violento sacerdote:
"Coisa incrivel, mas desgraçadamente certissima, estes intitulados missionarios estao há perto de dois anos entre nós procurando com a atividade dos demônios perverter os católicos, abalando a sua fé, com pregações publicas na sua casa, com escolas semanarias e dominicais, espalhando Biblias truncadas e sem notas, enfim, convidando a uns e a outros para o protestantismo e muito especialmente para abraçar a seita dos metodistas, de todos os protestantes os mais turbulentos, os mais relaxados, fanaticos, hipócritas e ignorantes".
Os livros do Padre Luis Gonçalves dos Santos são hoje desconhecidos, só existindo na secção de obras raras de alguma biblioteca publica ou de bibliófilo, ao passo que a Escritura Sagrada prossegue em sua marcha vitoriosa, cada vez mais lida e mais estimada por milhões de brasileiros. E quanto aos metodistas, considerados tão vilmente, ai esta a historia para julga-los.

A primeira vida ceifada

Ao enaltecermos a obra do Rev. Daniel P. Kidder, devemos levar em conta o apoio e a inspiração que recebeu da jovem esposa, Sra. Cynthia Harris Kidder. Ambos decidiram entregar as vidas ao trabalho de Deus, mas podendo realizá-lo em sua própria nação, vieram para o Brasil. Todavia o Rev. Kidder não se deteve no Rio de Janeiro, pois encarnou como poucos o espirito do itinerante metodista. Durante os dois anos de permanência em nosso Pais, passou viajando grande parte do tempo, e isso exigiu da amável companheira todo desprendimento e compreensão.

Parece que a Sra. Kidder não tinha uma boa constituição fisica. Na travessia para o Brasil ressentiu-se bastante. Depois, o marido, referindo-se a um passeio que fizeram a cavalo pelos arredores da cidade, escreve que D. Cynthia se achava recuperando de recente enfermidade.

E mais tarde, quando tudo já corria bem e o jovem missionario externava seus novos planos a dileta companheira, quase repentinamente a mesma precisou de recolher-se ao leito. Lê-se, a propósito, no "Diário" dele as seguintes anotações:

"Domingo, Abril 5, 1840: Mrs. Kidder não passou bem quanto a saude, de modo que esteve ausente ao culto da noite".

Diversos médicos foram chamados, ao se pressentir a gravidade do mal. Recorreu-se ao que de melhor podia a ciência oferecer na ocasião, na cidade do Rio. O Rev. Kidder desdobrou-se em carinho.

As vigilias prolongaram-se durante noites seguidas. Mas tudo em vão. Só por um milagre a enferma poderia curar-se. Afinal, no dia 16, cerca das 4:00 horas da manhã a sra. Kidder deixou de pertencer a vida presente. O corpo foi removido para a capela do cemiterio dos ingleses, no bairro de Gamboa, e sepultado nessa mesma necrópole as 4:00 da tarde.

O oficio funebre foi dirigido pelo ministro da Igreja Anglicana, estando presente também seu colega da Igreja Alemã, alem de muitos amigos, americanos, ingleses, alemães, franceses, e brasileiros. Sobre o tumulo levantou-se uma laje com o seguinte epitafio: "Sagrada a Memória da Sra. Cynthia Harris, esposa do Rev. Daniel P. Kidder, Missionaria Americana". Faleceu em 16 de Abril de 1840, aos 22 anos e seis meses.

Abriu-se um "hiato" no trabalho metodista

A morte de Mrs. Kidder transtornou a vida de seu jovem marido alem de lhe ferir duramente o coração, atirando-lhe sobre os ombros o inteiro cuidado de duas crianças, uma das quais, sem duvida, nascida depois de o casal aportar ao Rio de Janeiro. Dois marcos, portanto, da passagem da familia por nosso pais e, ao mesmo tempo, da primeira missão metodista.

Por esses motivos, o Rev. Kidder achou conveniente regressar aos Estados Unidos. A 9 de maio embarcou no "Azelia", levando as crianças consigo. É impossivel descrever o seu estado de espirito quando o navio levantou ferros e se foi distanciando mais e mais da Guanabara: para tras ficara aquela que ele tanto amava e que escolhera para companheira de seus nobres ideais.

O casal McMurdy também se retirou mais ou menos na mesma ocasião. Ficou apenas o Rev. Spaulding e familia. Mas, também estes regressaram, em fins de 1841. Escreveu a proposito o autor de Cincoenta Anos de Metodismo no Brasil.

"Ainda que aquela primeira missão metodista, como trabalho organizado, terminasse no fim de 1841, contudo ainda permaneceu um elo vivo e pessoal que ligou aquele com o movimento moderno do metodismo, e este elo foi a familia Walker que pertencia a Igreja de então e que passou a pertencer a atual Igreja Metodista no Brasil..."

É preciso levar em conta, outrossim, que a semente espalhada por Spaulding e pelos companheiros contribuiu para descerrar caminhos a outros obreiros evangelicos que vieram depois deles. Relata o Rev. G. E. Strobridge, biografo e genro de Kidder que, quinze anos após sua partida do Rio de Janeiro, certo missionario de outra denominação fez amizade com um proeminente cidadão brasileiro, homem de vida realmente cristã, e a quem perguntou a causa desta mudança. Respondeu: "Tudo isto eu devo a Biblia que deixou comigo há muitos anos o Padre Kidder".

Fonte: História do Metodismo no Brasil - José Gonçalves Salvador - Imprensa Metodista

Um comentário:

Lúcy Jorge disse...

A Paz de Cristo, vim dizer que sua presença é muito importante para o Blog Fruto do Espírito, a nossa amizade se perpetuará neste início de ano. Receber-te como seguidor será uma honra, retornarei seguindo-te...

PARABÉNS PELO EXCELENTE BLOG!

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Em Cristo,

***Lucy***

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